quarta-feira, 30 de abril de 2008

A Ironia do Quase Gol


Eis a marcante expressão, utilizada pelos locutores de jogos de futebol, que caracteriza a emoção de um lance quase definido: “Na trave!!!”... O pior é que essa emoção, quando a jogada não é concluída com êxito na seqüência, resulta sempre na frustração do gol perdido.

O futebol - quem acompanha sabe - é um jogo repleto de ironias. E dele resultam outras expressões interessantes, que em muito se aplicam à realidade: “Quem não faz, leva”, “O futebol é uma caixinha de surpresas”, “Em time que se ganha não se mexe”, dentre tantas outras.

Ironias do futebol, ironias da vida. Que o diga Ronaldo, o fenômeno. Doido para fazer ‘três gols’ numa madrugada de agito, só conseguiu ‘bater na trave’. E a emoção resultou em frustração. A ‘caixinha de surpresas’ da vida foi infalível e ele, que não fez, levou - ‘mexeu no time’ e não ‘ganhou’.

Ronaldo queria fazer. Os travestis queriam levar. Engana-se, todavia, quem pensa que dessa ‘jogada’ saiu ‘gol’. O careca invadiu a ‘área’ e encontrou ‘duas bolas’. Sabe-se lá o que realmente aconteceu entre as ‘quatro linhas’, ou melhor, entre as quatro paredes do motel. O fenômeno e os três acompanhantes disputando uma ‘jogada’ inusitada. A 'marcação cerrada' resultou em confusão, que se desdobrou na delegacia.
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Estão dizendo que tudo isso foi o único ‘gol contra’ do fenômeno. Outros, afirmam que essa foi a ‘jogada’ mais ridícula do craque brasileiro. Eu, contudo, acho que o rechonchudo jogador sofreu a ironia do quase gol. E a ‘bola na trave’, que continua ecoando até agora, vai ficar definitivamente registrada nos ‘anais’ da história. Literalmente.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Segredos


Por quanto tempo um segredo pode ser guardado?

Os sigilos que adornam a vida humana são marcados por singulares demonstrações de medo: da culpa, de se expor, das conseqüências, de assumir responsabilidades. E nesse perigoso jogo estratégico, muitas vidas acabam sendo afetadas, com intensidade variável a depender da gravidade do mistério em questão.

Segredos como o do austríaco Josef Fritzl, engenheiro elétrico de 73 anos de idade, que por 24 anos escondeu sua filha num porão, forçando relações sexuais que resultaram no nascimento de 7 filhos - 1 morto após o parto, cujo cadáver foi ocultado pelo homem, que ateou fogo no corpo do bebê. O hoje idoso assumiu os crimes e, através da revelação dos seus atos, mostrou ao mundo a natureza instintiva que compõe o ser humano.

24 anos de confinamento, violência, degradação. Mais de duas décadas escondida do mundo, trapaceada pelo desejo doentio do pai. Elisabeth Fritzl, hoje com 42 anos, está confusa. O que se passa em sua cabeça? O que seus olhos - e sua mente - estão absorvendo do mundo que agora a abriga? O que restou da jovem de 18 anos, que vivia livre até ser aprisionada pelo próprio pai?

Segredos... Melhor que se deixar punir pelas conseqüências de um ato considerado errôneo, é assumir as suas conseqüências. O sofrimento gerado em tais situações muitas vezes ganha contornos dramáticos, com efeitos que acabam ecoando pela eternidade. Que o digam Josef, Elisabeth e as suas seis crias - pai, filha, mãe, avô, filhos, netos...

Por quanto tempo um segredo pode ser guardado?

domingo, 27 de abril de 2008

Firmamento de Nós


Do alto o que se vê é um coração, cheio de células e artérias. Minúsculos pontos, nós, no solo e no firmamento. Enquanto a nave voa, o meu pensamento flutua num imenso invisível. Torno-me uma nuvem, repleto, leve, vagante, pairando sobre esse músculo pensante, o planeta Terra, plantado no seio divino.

Assim como eu, flutuam no espaço aéreo outras nuvens, talvez mais espessas, talvez mais leves, talvez alheias a esse coração pulsante que nos abriga. Somos bilhões de pontos nesse pulsar, uma massa vagante, como densas nuvens humanizadas, contudo, dispersas da almejada unicidade.

Entrelaçados e segregados, preenchemos um firmamento de nós, coletivos, emaranhado errante, viventes, morrentes, renascentes. E persistimos a vagar vida a fora. Mas o vôo continua. A Terra pulsa. E o pensamento permanece, a vagar, na busca da ainda impenetrável utopia da felicidade humana...
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Basta um miúdo olhar no cotidiano para constatar o firmamento de nós que a vida é. A nuvem densa também contagia o serviço público de saúde, que anda um emaranhado só.

Ontem, a PM foi acionada para conter um tumulto no Hospital dos Servidores, no Recife. Uma médica perdeu as estribeiras após inúmeras reclamações de pacientes e acompanhantes, queixosos quanto à demora no atendimento e falta de médicos - viventes e morrentes sufocados pela falta de senso coletivo.

A população continua carente de estrutura. E de humanidade, justiça, tratamento igualitário. O básico que poucos esbanjam falta para a maioria. Por isso, aumenta cada vez mais a impenetrabilidade da utopia da felicidade humana.

E o meu pensamento permanece a vagar...

sábado, 26 de abril de 2008

Liquefativo

Estou derretendo. O calor me incomoda. Inflige-me. E eu infrinjo todas as noções sãs em nome desse crime, o tão na moda efeito estufa, bola da vez da insanidade humana.

Ah! A humanidade... Cria seus próprios problemas, inventa suas próprias catástrofes, batiza suas incompetências, lança discursos desgastantes e ainda culpa a natureza. E eu? Quem anda pensando em mim? Quem está se afetando com a minha liquefação? Quem, afora uns poucos, anda se importando com as conseqüências disso tudo?

Eu sou Tasman. O calor me incomoda. Estou derretendo...



A geleira de Tasman, na Nova Zelândia, que está derretendo em proporções inimagináveis. Os cientistas estão preocupados. As conseqüências não serão nada animadoras. E a humanidade persiste, mas... Até quando?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Boa Viagem


Boa Viagem... Dependendo do ponto de vista. A caminho do aeroporto, cruzei o movimentado bairro recifense, desbravando suas pavimentadas entranhas na ânsia de logo pegar o avião. E segui.

No percurso, inúmeras esquinas visualizei. E mais que qualquer paisagem urbana, percebi o inquietante fruto social humano: a prostituição. Disfarçada de mulheres e travestis, exibia-se com uma agressiva sede de sexo. Ainda que pensativo, segui.

Alheio a qualquer possível julgamento, pus-me a pensar no tipo de vida que se leva nas esquinas da vida. Pensei nos seres humanos que vendem seus corpos para sobreviver (e nos que os compram). Pensei naqueles que, ocultos, lucram com esse tipo de exploração. Pensei nos familiares (nos que estão vivos, que admitem ou desconhecem a realidade dos seus). Pensei, também, nos frutos dessas relações físico-financeiras (crianças, fetos abortados ou órfãos de pai). E continuei seguindo.

Agora, em pleno avião, desbravando os ares da linda ‘Veneza Brasileira’, persisto nesses registros que a minha mente estimula. E enquanto sigo, penso na Boa Viagem - na minha, no bairro e na dos frutos viventes nas suas esquinas. Até quando estaremos nessa encruzilhada?

Continuo pensando. E sigo...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O Mundo Precisa de Guerra!


O combate persiste. Eu comigo mesmo, duelando na ânsia de saber quem se sobressai. A guerra é longa... Muito longa. E as batalhas são constantes, confrontos de luz e sombra, partes vivas de mim.

Paz tenho, sim, em alguns escassos instantes, assim como este. E nesses intervalos pacíficos, tiro o foco dessa minha luta para ser melhor e direciono-o ao mundo exterior. Deus! O quanto desse tipo de guerra o mundo precisa!

Os homens se digladiam e se permitem obtusos. Assassínios dentro e fora do lar remetem ao excesso de exteriorização da vida. O quanto o ser humano não olha para si... O quanto a sociedade persiste em suas facetas mais superficiais... Quem tem coragem de viver a própria essência?

Essa constatação - tanto das minhas batalhas quanto da superficialidade da vida humana - levou-me, dois anos atrás, a desenvolver uma fábula que muito em breve será lançada como livro, ‘O Rei, a Sombra e a Máscara’. Eis o fruto literário dessas minhas divagações, que espero logo esteja ao alcance de vocês.

Desculpem... Peço desculpas, mas preciso parar por aqui. Novo embate se inicia em meu ser, impelindo-me a descobrir se minhas palavras aqui grafadas são mesmo verazes em mim. Retiro-me estrategicamente. Novamente confrontar-me-ei...

sábado, 19 de abril de 2008

46%

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46%. Esse é o número percentual médio que as emissoras de TV, através dos seus telejornais, obtiveram de aumento de audiência nas últimas semanas. Até aí nada de anormal, não fosse isso fruto da exploração exacerbada do caso Isabela Nardoni.

46% a mais de manipulação da massa - e o povo só fala nisso, e a população local dana-se a xingar os envolvidos, antes mesmo de qualquer informação oficial -; 46% a mais de dinheiro nos cofres das emissoras; 46% a mais de miopia coletiva.

Faço esse registro deixando de lado todo e qualquer argumento sociológico ou psicológico, sem nenhuma pretensão de analisar o comportamento coletivo em si. A reflexão é: será que somente esse crime (bárbaro) aconteceu nessas últimas semanas? E a vida? Parou em todo país? E a responsabilidade de quem tem a missão de noticiar com imparcialidade? Vale esse aumento de audiência às custas da manipulação popular?

Para mim, nada disso justifica. Estou 46% mais consciente de mim mesmo, da minha responsabilidade ante o todo. 46% mais convencido de que a mídia no Brasil (e na maioria dos países) necessita de uma injeção moral. 46% menos interessado em me submeter a essa manipulação.
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E você?

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Saudável e o Absurdo

Olhar penetrante,
Andar sensual,
Cabelos ondulados,
Voz angelical.

Seios volumosos,
Cinturinha de pilão,
Bumbum empinado,
Mini-saia, pés no chão.

Minha nossa!
Olho bem no meio...
O que é isso? Não sei!

Minha nossa!
Estou surpreso...
Meu bem, você é gay!



O tom do poema acima, que pode ser considerado por alguns como pejorativo, na verdade nada disso tem. O evidente bom-humor é um olhar pueril, um tanto jocoso, mas sem más intenções - uma espécie de homofobia cômica. Conheço gays, veadinhos e homossexuais e, claro, a temática séria ganha contornos de brincadeira quando levada de forma leve e superficial. Isso é saudável.

‘Gays, veadinhos e homossexuais?’, você deve estar questionando. Sim! E antes que eu leve um xingamento cabeludo, vou logo explicando: gays, aqueles simpatizantes, mui entrosados, mas que não chegam às vias de fato; veadinhos, assim vulgarmente denominados apenas por terem postura e atitudes afeminadas; e os homossexuais, cuja opção sexual dispensa apresentações.

Quantos rótulos, não? Pois é. E o pior é que nem eu nem vocês temos nada a ver com isso. A vida é feita de escolhas, inclusive sexuais (óbvio). Por isso mesmo, considero nada demais as brincadeiras saudáveis em torno do assunto.

Inadmissível, porém, é o preconceito. A ignorância tem descambado para o desrespeito, para a invasão da individualidade alheia e, o que é pior, para injustificáveis atos de violência (como todo ato violento assim o é). O arco-íris, símbolo do movimento gay, anda ficando enegrecido. E isso não tem graça nenhuma.

Segundo dados não-oficiais, fornecidos pela ONG Fórum Permanente Contra a Violência, o Brasil é o país onde ocorre o maior número de homicídios homossexuais e onde a maioria dos assassinatos continua sem punição. E os números da violência têm crescido vertiginosamente nos últimos anos. Um absurdo.

O caso mais emblemático desse quadro negro aconteceu em Alagoas, em 1993. O vereador de Coqueiro Seco, Renildo Santos, homossexual assumido, foi assassinado com requintes de uma crueldade ímpar: após ter sido seqüestrado, o vereador teve as orelhas, nariz e língua decepadas, unhas arrancadas e depois cortados os dedos; as pernas quebradas; foi castrado e teve o anus empalado. Foi esquartejado, levou tiros nos dois olhos e ouvidos, teve órgãos retirados do corpo, possivelmente com uma faca peixeira. Para dificultar o reconhecimento do cadáver, atearam fogo a seu tronco, enterrando o corpo em cova rasa. Sua cabeça foi encontrada boiando no rio Una, próximo a Palmares, e o tronco, no município de Xexéu, ambos em Pernambuco.

O caso tornou-se um clássico da impunidade e da violência homossexual no mundo, ganhando destaque nos relatórios da Anistia Internacional como um dos mais bárbaros crimes homofóbicos registrados no planeta. O vereador virou prêmio de Direitos Humanos, mas os suspeitos de seu assassinato permanecem em liberdade. Sem dúvida, um caso que mistura política e sexualidade, mas que permanece chocando pelo excessivo desrespeito à vida e à liberdade sexual.

Pois é. O contraste da brincadeira inicial com os dados aqui apresentados torna o tema ainda mais profundo. Talvez, devamos todos nós dar um tom mais gay ao dia-a-dia: mais alegria, menos atenção ao que os outros falam e pensam, mais autenticidade. Pois é...

Contudo, só para não deixar o tom de brincadeira de lado - e persistir no saudável ao invés do absurdo -, deixá-los-ei à vontade: quem quiser sair do armário de vez, que o faça. Ninguém tem nada a ver com isso...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Paixão

Apego.
Prisões são construídas
Abrigando corações apegados,
Sem liberdade,
Apaixonados...




A paixão cega. E o pior cego é aquele que enxerga e não quer ver.

Que o diga a seita ‘Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias’, que prega a poligamia masculina (quanto machismo!) como salvação (as mulheres que sofram e, com isso, alcancem também a ‘salvação’). Denúncias de estupro, subjugo e espancamento de mulheres (inclusive de adolescentes) levaram a polícia americana a prender o ‘líder’ da ‘religião’. Cegos, movidos por uma mórbida manipulação (e também por uma evidente paixão pelo prazer), os praticantes da seita estão vendo agora a ‘salvação’ mais distante.
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A paixão que cega, que aprisiona, que mata... Que não conhece o que é amar.

Que o diga o casal Ana Maria e Paulo. Ela, uma idosa de 68 anos, doente e mantida por ele em cárcere privado na própria residência. Ana faleceu ontem e a população está revoltada com a negligência de Paulo. Paixão... Se fosse amor, a história seria diferente.

Paixão é medo: de ousar, de não ser aceito, de experimentar o novo, de não aceitar a realidade, de ser apenas o que se é. E como um bando de cegos seguimos rejeitando a razão, nos entregando à emoção, esquivando-nos da liberdade que é amar.

O importante é ser apaixonado - ‘ser’ e não ‘ter’ paixão. Viver com a alegria e a intensidade de uma paixão lúcida e permanente. Esse é o caminho para o verdadeiro amor. Assim eu quero... E tento ser...

sábado, 12 de abril de 2008

Meu Inquérito Virtual


Sinto-me um crápula. Acabei de desvirginar um CD. Apossei-me de sua virgindade digital, ávido para garantir com segurança meu arquivo pessoal.

Reconheço: essa não foi a primeira vez. Nem o único tipo de crime virtual que cometi. Desde o inicial momento em que me peguei com o disco rígido, até os dias de hoje, muitos foram os delitos. Lembro quando deitei e rolei na rede metendo o dedo no mouse; quando naveguei na web pirateando músicas e vídeos; quando eliminei arquivos usando apenas um comando; ou quando manipulei meu micro para processar os dados.

Lembro também quando mandei arquivos inocentes para a lixeira, só porque não me serviam mais; quando abri programas para proveito próprio; quando criei pastas pessoais apenas para esconder meus dados; ou quando reiniciei tantas e tantas vezes o meu micro somente porque ele não estava agindo como eu queria.

Embora nesse momento esteja eu um tanto envergonhado, não posso deixar de registrar que, nesse universo paralelo, também fui herói: salvei arquivos; protegi dados com antivírus; compartilhei informações pela rede; imprimi imagens e causei boa impressão; expandi a memória para melhorar o desempenho do micro; ampliei espaço para abrigar mais arquivos; além de outras louváveis ações.

Sinto-me agora dividido entre os bons e maus feitos, registrados nesse meu inquérito virtual. E nem mesmo nesse foro, que dirime as questões da era digital, estou livre da dualidade que me compõe. Resta-me, assim, manter-me conectado...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Seres Virtuais


Ontem te vi na internet. Cheguei até você utilizando o mouse. Mas, como poderias estar lá? Sei lá! Nesse mundo virtual, que a maioria habita sem nada questionar, torna-se possível divagar com palavras dúbias. Falando nisso, cá estou, num Blog, 'falando' pra você. Onde estás? Como me 'escutas'? Onde vivemos, afinal?

Na era da internet, somos todos teclas de um mesmo jogo, vítimas e algozes transferindo a vida humana real para o complexo virtual. Nesse universo, o terreno também é minado, cheio de perigosas armadilhas.

No Brasil, a CPI da pedofilia pressiona empresas do ramo na tentativa de controlar melhor o que é quase incontrolável. O Google, assim, anda se comprometendo a filtrar o lixo internético, especialmente os ligados à pedofilia. Os doentes que se cuidem...

Nos Estados Unidos, um crime real aconteceu na tentativa de conseguir fama virtual. Seis garotas (sim, do sexo feminino!) agrediram outra menina, com o simples intuito de filmar a agressão e colocá-la no You Tube. A vítima está com problemas num dos olhos e orelha e as agressoras estão sob inquérito policial. Os doentes que se cuidem...

Aonde vamos parar???

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Ha-ha-ha-ha-ha...

Descolorido.
Desnarigado.
Sorriso sem brilho.
Feio, torto, atrapalhado.

Eu... Palhaço...



Estamos com o humor em alta! Sim! Vivemos tão desenfreadamente focados numa ilusão coletiva que protagonizamos verdadeiras comédias cotidianas.

Assim foi com o ladrão carioca, que devolveu o carro que havia roubado de um taxista após a mulher deste, desesperada pela perda do ganha-pão familiar, implorar via celular (cujo aparelho também estava de posse do meliante) para que o veículo fosse devolvido.

Assim também foi com os seqüestradores do filho do desenhista Maurício de Sousa, que libertaram o garoto (e também a sua mãe) sem ver a cor do dinheiro do resgate – dizem que desistiram da ação criminosa após Maurício ameaçar colocar a Turma da Mônica no caso...

Assim foi, ainda, com um advogado preso após ser flagrado na entrada de uma penitenciária, levando aparelhos de celular escondidos para bandidos – o “homem da lei” agindo como moleque do tráfico.

Hilário! Nós somos uma piada! E enquanto outros ‘atores’ vão dando forma a novas ‘atuações’ estapafúrdias, vou continuar com a minha acidez comedida, afinal, também sou um palhaço nesse circo da vida humana. Ha-ha-ha-ha-ha...

domingo, 6 de abril de 2008

Aqueles que se Entregam à Própria Sorte

Arcabouço disforme,
Desarmonia reinante em corpos retorcidos,
Forçadamente amiudados,
Guardando em si atrofiada mente,
Auto-absorta,
Nodosa.

A capa, assim, já nem serve
E o âmago amarga o apressar do passo,
Esse inocente e intencional acelerar humano.

Os voluntários se auto-sentenciam,
Guardam concorrida turba no leito de morte,
Recatadas pr’aqueles que se entregam à própria sorte.

Cumpra-se, então, o dito adágio!



Observo-nos. Como nos deixamos envelhecer! Decrepitude mental que se reflete no corpo, o ‘arcabouço disforme’, imagem de eu’s complexos, reprimidos, insatisfeitos, revoltados.

Somos todos gordos. Cheios de egoísmo, violência, culpa, medo, solidão. A obesidade moral nos consome, dia após dia, como um carrasco voraz. Deixamo-nos atrair pela cobiça, como se nós mesmos não nos bastássemos. E esse mal coletivo perdura...

Eu também estou gordo. Um tanto farto desse excesso de notícias ruins, desse nosso exacerbado senso de exploração do comum e do absurdo: a prisão do homem pago para cuidar de um idoso de 81 anos (e que, ao invés disso, espancava-o); a morte da modelo (mais uma) por anorexia, na busca desequilibrada pela beleza; a mulher que, de tão gorda, morreu esparramada numa cama...

Pois é... Ao que parece, somos todos aqueles que se entregam à própria sorte...

sábado, 5 de abril de 2008

Adeus e Solidão

Olhos apertados
Lágrimas reprimidas
Magoei a menina...
Dos meus olhos.

Peito apertado
Batimentos sofridos
Machuquei os inquilinos...
Do meu coração.

Agora todos se foram...
Sofrerei sozinho, então.



Enquanto o vulcão Kilauea explode no Havaí, no Brasil a mídia se delicia em explorar o caso da menina Isabella Nardoni - mais uma inocente vitimada pelo nosso caos social.

Enquanto muitas crianças tornam-se vítimas dos desequilíbrios adultos - dos pais, de familiares ou de estranhos -, a sociedade se choca, manipulada pelos meios de comunicação, que tornam o suposto (e provável) assassinato da garotinha branca e rica em questão nacional.

Quantas Isabellas (negras, pardas, pobres, miseráveis) morrem todos os dias? Quantas delas ocupam o horário nobre da televisão ou as principais páginas dos maiores jornais brasileiros? Quantas não morreram com igual ou maior gravidade?

Enquanto o Brasil chora lágrimas incongruentes - e a mídia alimenta sua audiência -, o vulcão Kilauea continua dando um show de beleza, mostrando a força e a exuberância da natureza. Talvez para nos mostrar o quanto ainda damos adeus ao bom senso e mergulhamos na solidão.
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Soframos todos sozinhos, então...

sexta-feira, 4 de abril de 2008

54 Pés


Olho para baixo...
São apenas os meus dois pés...

Antes era os pés da besta:
Pé de pau, pé de mato, pé de planta,
Pé de moleque, pé de morro, pé de rampa,
Pé de anjo, pé de serra, pé de pinhão,
Pé de chulé, pé de chuva, pés no chão.

Depois foi tudo ao pé da letra:
Pé de lancha, pé do ouvido, pé de cobra,
Pé de pato, pé de gente, pé de cabra,
Pé no saco, pé de coelho, pé de guerra,
Pé na tábua, pé na estrada, pé de atleta.

Mais pra frente, pé na bunda:
Pé do toitiço, pé nas costas, pé de mesa,
Pé de dinheiro, pé rapado, pé de cana,
Pé grande, pé do cipa, pé de chumbo,
Pé de moça, pé de meia, pé de juízo.

E, no final, só pé de galinha:
Pé quente, pé frio, pé de chinelo,
Pé de ouro, pé de boi, pé de valsa,
Não tá de pé, nem vai dar pé, só pé de escada,
Pé na jaca, pé na lama, pé na cova.

Olho para baixo...
São apenas meus dois pés...
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Com quantos pés se faz uma vida? Andamos por aí, pés no chão e cabeça para o alto, ávidos por viver, sedentos por um planeta mais humano - e, por que não, mais divertido. Afogamo-nos em risos e lágrimas e entramos com os dois pés no que acreditamos ser o melhor para nós mesmos. Mas, infelizmente, o mundo anda girando com o pé esquerdo.

Tomando pé das notícias locais, deparei-me com algo aterrador: o tio que matou a sobrinha de três anos a foiçadas, ontem, em Jupi (PE). Ainda estou de quatro pés com o impacto da nota - e da barbaridade cometida pelo alcoólatra, que quase foi linchado pela população.

O ser humano anda vivendo sem pé nem cabeça. Quando tomaremos pé das nossas próprias noções de civilidade? Quando daremos pé de nós mesmos? Até quando permaneceremos sem um pé de juízo?

Assim, a minha intenção de brincar com a ‘Língua’ através dos ‘pés’ acabou não dando pé. Fazer o quê? Essa é a nossa triste e real gramática...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O Fungo, a Dor e o Exemplo de Gaby

“Como posso gritar
Se não consigo falar?
Como posso deixar de amar
Com a semente de uma mulher
Dentro de mim?
Deus, se a vida é tantas coisas
Que não sou e nunca serei,
Dê-me força para ser o que sou”.

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Estou com uma inflamação no ouvido. Um fungo ousado decidiu entrar e se instalar no meu canal auditivo esquerdo. Estou convivendo com a dor, embora confesse que tenho lutado contra ela.

Dor. Companheira dos homens desde os primórdios dos tempos. Eis que ela vez por outra aparece, seja infligindo sua tenacidade no corpo físico ou no emocional. E por que tanto repelimos-na? Por que, após tantos milhares de anos, a vida humana não aprendeu a conviver com ela?

Olhemos ao redor. A dor está em toda parte, capciosa, abrindo espaço nesse vasto mundo. Até aí tudo bem. O problema é que, com ela, perdura o sofrimento, esse, sim, reflexo da nossa incapacidade em entender a dor. Por que tantas coisas doem em nós? Quando deixaremos de lado a pretensão de querer ser melhor do que somos, deixando de nos doer tão facilmente?

Esse é o ponto. Exceto nos casos clínicos agudos - e ainda assim é possível conviver com ela -, a dor é a maior prova da nossa incapacidade de apenas ser. Para saber o que é ser são, é preciso a loucura; para saber o que é ser saudável, é preciso sentir dor; para saber o que é felicidade, é preciso saber o que é o desamor.

Está bem... Está bem. Vou ignorar as minhas palavras iniciais. Afirmo: não estou sentindo mais dor. Estou começando a pensar no fungo como um grande amigo, um vizinho temporário que veio habitar no meu ouvido, próximo ao meu cérebro, talvez, só para me dizer o quanto preciso apenas ser. E parece que estou aprendendo... Valeu, fungo!
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Os versos publicados no início desse post são da escritora Gabriela Brimmer - ou apenas Gaby. Nascida com paralisia cerebral, viveu limitada a uma cadeira de rodas (foto). Só mexia o pé esquerdo, não falava, se comunicava apenas pela escrita via datilografia ou digitação (feita com o pé!). Suas palavras - e o exemplo da sua força em vida - revelam uma mente fantástica. Que o seu exemplo, então, nos inspire também a apenas ser... Valeu, Gaby!