segunda-feira, 31 de março de 2008

A Chama e as Chuvas


A chama olímpica chegou em Pequim. Símbolo de paz e união entre os povos através do esporte, teve seu brilho ofuscado pela questão envolvendo a China e o Tibete, trazida à tona por manifestantes quando a tocha foi acessa na Grécia, dias antes. País conduzido com mãos de ferro, a China encontrou um bom motivo para repensar as suas relações com o mundo e, especialmente, com o seu próprio povo: a realização dos Jogos Olímpicos. Será que vai rolar?

Do outro lado do planeta - aqui em Recife -, o mundo se dilui embaixo d’água. Não o meu e o seu, que nos possibilita sentar confortavelmente utilizando um computador enquanto a chuva cai torrencialmente; mas o da população mais carente, que sofre com mortes, acidentes e a perda dos poucos bens materiais por conta das chuvas e da conseqüente queda de barreiras. Será que vai continuar a rolar?

Que chuvas de paz orientem o oriente. Que a chama da solidariedade inunde o povo recifense. Que milhões de gotas de amor sensibilizem governantes nos dois (e em todos) lados do planeta. E que, enfim, a tocha da esperança continue acesa no coração de toda a humanidade. Aí, sim. Vai rolar.
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A imagem acima é uma arte produzida pelo movimento Repórteres sem Fronteiras, numa crítica visível à realização das Olimpíadas 2008 em Beijing. Eis a nossa união.

domingo, 30 de março de 2008

Meu Minuto de Silêncio


A imagem mostra a covardia humana: a temporada de caça às focas, no Golfo de São Lourenço, no Canadá. Sob protestos em todo país, os caçadores valem-se da quase total indefensibilidade desses animais, agindo com violência em nome do dinheiro.
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Hoje sofrem as focas. Todos os dias sofrem os frangos, os bois, os porcos. Financiamos a selvageria humana, que insiste em manter-se mais animal que humano. Consumimos o sangue dos animais, o oxigênio do planeta, o verde das florestas, o ozônio da atmosfera... Tudo por mero interesse financeiro - sim, dinheiro que cobiçamos desenfreadamente, mas que não levamos quando partimos.
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Paro por aqui. Não vou escrever mais nada. Voltarei ao meu minuto de silêncio...

sábado, 29 de março de 2008

Nós Abortamos Ângelo


Apenas uma semana de vida. Sequer foi batizado. Chamá-lo-ei de Ângelo (embora alguém já tenha sugerido o nome de Renato). Abandonado ontem pela mãe na portaria de um prédio em Brasília, ainda que sem querer, expôs a nossa miséria social. Questões macro - como a educação e a igualdade sócio-econômica - e micro - como a responsabilidade de gerar um filho e assumir as conseqüências de um relacionamento sexual - vieram à tona com a mesma força da imagem na TV.

A frieza do abandono se compara a um aborto. Ângelo é, sim, fruto de um aborto social, cria da nossa incapacidade em lidar com os efeitos dos nossos próprios atos e, acima de tudo, de conviver coletivamente com justiça e amor. A mãe de Ângelo é, também, um reflexo do que somos.

Uma penca de gente vai surgindo na ânsia de adotar o menino. Claro. Famoso - possivelmente, no futuro, foco de uma matéria num telejornal qualquer (“lembram da criança abandonada há 18 anos em Brasília...”). Adoção? Sim! Lição de amor, contudo, é conseqüência dessa miséria. E a causa? Quando encontraremos a cura para nós mesmos?

Ângelo chora. Continua sentindo a ausência da mãe. Permanece esperando que tantos outros, como ele, sejam enfim amados. Quantos bebês ainda iremos abortar?
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* O texto acima foi baseado em fato verídico, acontecido na Capital Federal em 28 de março de 2008. Esse é o nosso mundo...

sexta-feira, 28 de março de 2008

O Doce Sabor da Gentileza


Tô fora! Não agüento mais esperar. Quando alguém atende, não me atende. Passa adiante. E não posso sequer reclamar. Isso quando é gente que surge do outro lado, pois às vezes me deparo com um ser digital, me tratando como se fosse alguém...
- Bom dia! Você ligou para o atendimento digital do cartão Master Line. Por favor, diga qual o motivo da sua ligação.
Silêncio na linha...

(vixe! Vou falar o que?)

Meu filho olhando pra mim sem entender e eu temendo ficar com cara de idiota. Saco! Vou ligar de novo e ver se tem outra opção que possa me colocar na linha com algum atendente de verdade.
- Bom dia! Você ligou para o atendimento digital do cartão Master Line. Por favor, diga qual o motivo da sua ligação.

(hummm...)

- Segunda via da fatura do cartão de crédito!

(eita! Falei alto, com cara de idiota e meu filho rindo de mim. Bonito isso... Hum!)

- Desculpe, mas não foi possível registrar o motivo. Por favor, diga novamente qual o motivo da sua ligação.

(lá vou eu de novo...)

- Fatura!
Dessa vez simplifiquei pra ver se aquela coisa “entendia”. A risada do meu filho agora foi maior. E a minha cara de babaca também.
- Ah! Entendi. Você quer informações sobre sua fatura. Aguarde um momento por favor.

(oxente! Essa danada vai voltar de novo, é???)

Tudo bem. Vou esperar. Espero. Espero. E espero... Musiquinha pra lá, musiquinha pra cá... E tome merchandising, blá-blá-blá... Minha Nossa Senhora! Três minutos e o palhaço com o fone na mão. O palhaço sou eu, claro. Mas, antes que desistisse, eis que surge uma vozinha de mulher com sotaque insuportável.
- Cartões Master Line, Atendimento ao Cliente, Odete, bom dia, com quem falo por favor?

(danou-se... Pra mim isso é um recorde!!!!)

- Meu nome é Pablo e eu...
- O senhor fala de qual cidade, por favor?
- Recife...
- Só um momento por gentileza...

(só mais um momento, é? Hum!)

E tome tempo de espera.
- Só mais um momento por gentileza...

(outro???)

Mais algum tempo de espera.
- O senhor pode me confirmar seu endereço, por favor?
- Não! Você não tem meus dados aí não, minha filha?
- É só para confirmação, senhor. É para a segurança da operação, por gentileza...

(é muita frescura...)

Após confirmar endereço, número da identidade, CPF, número do cartão...

(número do sapato e até a marca da minha cueca!!!)...

- Senhor, como o senhor é cliente Gold Card Vip, vou transferir o senhor para o setor responsável...
- Mas...
E tome musiquinha pra cima. Não pude sequer contestar a mulher e a danada da ligação já foi indo pra outro. E um cabra me atendeu...

(voz grossa e aquele sotaque intolerável)

- Cartões Master Line, Gold Card Vip, Faturamento, Jean Carlos, bom dia, com quem falo por favor?

(putz! Haja fôlego!!!)

- Rapaz, eu tenho que dizer tudo de novo?
- Perdão, senhor, não entendi.
- Meu filho, eu vou ter que repetir todo o meu histórico de novo ou você só quer saber o meu nome?

(pelo amor de Deus!!!!)

- Desculpe, senhor, mas é necessária identificação para segurança da operação.
- Olhe...

(se esse cara tivesse na minha frente...)

- Meu nome é Pablo, eu vou dizer o número do meu cartão e só! Você vai se virar mas eu não vou repetir tudo de novo!
- Senhor Pablo, é que eu preciso das informações para poder lhe atender...
- Tá bom! Tá bom!

(lá vou eu de novo, em nome do bom senso e da cortesia...)

Após todas as informações citadas novamente...
- Senhor Pablo, qual o motivo da sua ligação?
- Meu filho... Eu só quero saber como posso tirar a segunda via da fatura do meu cartão de crédito. Eu já tentei...
- O senhor pode acessar nosso site...
- Meu filho! Eu já tentei! Você acha que eu liguei por que?
- Só um momento, senhor, que vou passar para o setor responsável.
- Ei! Peraí...

(rapaz, e não é que o cabra não me deixou nem completar o que ia dizer?)

E tome musiquinha. Ouvindo o som da imbecilidade, me peguei em pensamentos nada nobres. E foi aí que constatei o paradoxo da minha ligação: pessoas educadas, gentis, mas treinadas para enrolar o consumidor – ou seria apenas incompetência mesmo? Acho que nesse planeta, esse é o doce sabor da gentileza...
Mão na testa e outra no fone, contive-me até nova atendente dar o ar da graça, com a velha frase feita e o terrível sotaque no meu pé do ouvido.
- Cartões Master Line, Gold Card Vip, Segurança ao Cliente, Marcela, bom dia, com quem falo por favor?

(meu Deus!!! Vamos lá... Paciência e educação...)

- Minha cara, você é a quarta atendente que eu falo... Tentei tirar a segunda via da fatura do meu cartão pela internet e não consegui. Eu só quero saber se você pode me ajudar a...
- Só um momento, senhor, que vou passar para o setor responsável...

(aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!! E tome musiquinha ainda por cima!!!)

Ah! É assim, é? Agora não tem acordo não! E não precisa nem colocar meus pensamentos nos parênteses, porque eu não agüento mais!!!!
- Cartões Master Line, Gold Card Vip, Atendimento Especial, Leandro, bom dia, com quem falo por favor?

(pode colocar o que eu disse...)

- Meu filho: vá pra putaquipariu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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OBS.: qualquer semelhança com a vida real não terá sido mera coincidência...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Águas Azuladas


Olho as águas azuladas da grande piscina. Embalado em suas suaves ondulações, meu filho mergulha empolgado. Nadando como um peixinho travesso, provoca uma sensação de orgulho no meu peito. Eu, aqui, bendito entre as mulheres (já que sou o único pai presente acompanhando a aula de natação). Próximas a mim, várias mulheres dividem o espaço fora da piscina e, dentre elas, apenas duas mães - todas as outras são funcionárias do lar, ali por uma obrigação profissional.

Observo as outras crianças, a maioria delas nitidamente carentes, ávidas pela atenção da professora. Onde estão seus pais? Questiono. E vou além: o que estamos fazendo com o nosso tempo? Que atenção estamos dando aos nossos filhos? Em que estamos contribuindo para que a futura geração seja melhor que a atual?

Tudo bem! Não vou entrar em detalhes, que são inúmeros - até porque quem sou para tal? -, mas trago à tona a questão da presença dos pais no dia-a-dia dos filhos e, principalmente, na importante contribuição que estes podem dar na formação do caráter da criança. Ouvi dizer que os melhores mestres são aqueles que nos fazem sofrer (pois nos proporcionam aprendizado). Mas, em se tratando de pais e filhos, essa máxima é falha, afinal, adulto são é aquele que teve amor, carinho e atenção familiar na infância.

Volto a olhar para as águas azuladas. Vendo as crianças soltas na piscina, alivio-me por um instante. Bom saber que estas estão seguras...

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Polêmica e mais polêmica. A sociedade humana é rica em promover controvérsias, justas ou infundadas. O foco nas crianças curtindo uma aula de natação remeteu-me ao caso de Joanna Maranhão - e de outras garotas que estão aparecendo agora. Pedofilia... Existe distorção humana mais perversa?

Prefiro a imagem da piscina. Mergulhemos, pois, nas águas azuis da consciência tranqüila...

terça-feira, 25 de março de 2008

O vazio e o Absoluto

O que não é, não sou.
O que é, sou.
Sou o todo, o tudo.
Só preciso me descobrir de verdade...



Ausência. Eis o vazio que parece infinito e que em mim teima em habitar. O que esse invisível representa? Por que ele persiste? O que significa?

E eu que pensava ser repleto. Tudo tenho. Tudo em mim habita. Contudo, vez por outra me flagro esvaziado, como se o que tenho e o que sou não me bastassem.

Enxergar o vazio é algo que soa estranho, mas, nesse momento, vejo-o. Percebo o seu reflexo no mundo exterior, nas pessoas que nada têm e que vivem, sorriem, apenas existem sem sequer se incomodar com o que pretensamente lhes faltam.

Volto ao vazio. Continuo a fitá-lo, só que dentro de mim. Olho-o de frente, ‘olhos nos olhos’, como se fôssemos íntimos. Enxergo... Somos apenas um, criador e criatura, cria minha representando o que ainda não sou.

Eu sei. O tempo há de passar e, com ele, crescerei. Aí, não sobrará espaço para o que não é. Serei pleno. Tão somente eu. Absoluto...
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A morte do ator australiano Heath Ledger ainda repercute. O vazio da perda, ofuscada pela repercussão mundial, foi reavivada numa exposição na Austrália, um concurso para retratistas. A pintura hiper-realista, feita por Vincent Fantauzzo e concluída na véspera da morte de Ledger, mostra o ator ao centro, ladeado de seus dois outros ‘eu’ cochichando ao seu ouvido.

Para o retratista, a sensação de vazio é uma constante. "Olhar por muito tempo para o quadro me emociona e ao mesmo tempo me dá calafrios, parece que ele ainda está ali diante de mim, posando", diz Fantauzzo. Talvez seja o invisível da morte, por nós ainda incompreendido.

A obra será doada à família do ator. E, ao que tudo indica, o tão repetido vazio se perpetuará. Quando nos tornaremos absolutos, enfim?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Santos? (parte II)

Estamos todos reduzidos.
Números.
Siglas.
Cifras.
Dígitos.

Despistamo-nos de nós mesmos.
Afundamo-nos em nós mesmos.
Esquecemos quem realmente somos.
(Homens, estatísticas ou santos?)

Do pó ao pó.
E se hoje estamos aos farelos,
Acho que já nem somos mais...



A semana 'santa' passou. Seus efeitos, porém, permanecem contundentes - e bem que poderiam ser consequências 'santas', mas não são. Sem contar as incontáveis brigas e confusões, 55 assassinatos foram registrados somente em Pernambuco. Recheando esses números, a imprudência nas estradas provocou 05 mortes, além de dezenas de prisões - 28 delas ligadas ao consumo exacerbado de álcool.
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Do pó ao pó... Enquanto nos dissolvemos numa vida nada 'santa', permanecemos crucificando o nosso verdadeiro 'Big Brother', flagelando-o através da nossa própria desarmonia. É... Parece que estamos mesmo todos reduzidos...

domingo, 23 de março de 2008

Santos?


Semana Santa? Páscoa? Qual o sentido desse 'mega' feriado religioso, num país cada vez menos humano? Por que festejar um momento católico se o mundo, hoje, é muito mais diversificado em termos de religião e crenças? Para que esse 'esforço' em lembrar de um figura ímpar - o Cristo -, numa sociedade embalada pelo álcool (e outras drogas) e pelas letras vulgares das pseudo-músicas festivas?

Alto lá! Antes que alguns se enfezem com o meu suposto puritanismo, esclareço: nada contra ninguém. Cada um escolhe o que é e o que quer ser. Não tenho nada a ver com isso. Refiro-me, apenas, à gigantesca hipocrisia social que insiste em permear nosso calendário. Encenações do martírio vivenciado por Jesus não combinam com os inúmeros assassínios nesse período pascal; missas católicas e seus consecutivos feriados não combinam com a enorme diversidade religiosa do país; procissões e eucaristias nada têm a ver com a desarmonia que reina em todos os festejos Brasil afora.

É isso, meus santos: hipocrisia. Eis a palavra que melhor nos define. Eis o termo que melhor revela o que nos compõe. E é inspirado nesse coquetel desarmônico que parto assente, ansioso para tocar no assunto novamente amanhã, afinal, passada a euforia ilusória de uma semana nada santa, teremos os números da desgraça que permeia esse tradicional feriado. Bebamos, então, a carne e o sangue de Jesus...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Homens Animais


Jorge é meu peixe. Inteligente. Prestativo. Realmente um bom amigo.
Débora é a minha prima. Devassa. Namoradeira que só ela. Uma cachorra.
Genival é um jumento. Segundo a ‘lenda’, grosso e avantajado (dizem, né?).
Seu Camelo é o pai de Genival. E, por ironia do destino, esse é realmente o seu nome, embora ele tenha uma corcunda daquelas – dizem, por maledicência, que tem ‘as bolas nas costas’...
Lacraia é um homossexual dos mais açucarados. Vive pra cima e pra baixo com um shortinho minúsculo, provocando os mais preconceituosos.
Dona Cláudia é uma mosca morta. Vizinha de Jorge, não se mexe nem pra beber água. Sua vida é somente a observar a vizinhança, com toda aquela gordura exuberante.

Pois bem.

Meu peixe começou a namorar a cachorra da minha prima. Ela, safada como sempre, passou a dar umas puladas de cerca com o jumento do Genival. Seu Camelo ficou danado da vida com a safadeza do filho, mas só perdeu as estribeiras quando ouviu Lacraia comentando com terceiros que Genival era de fato um jumento. E tudo sob as atentas vistas da obesa Cláudia, a mosca morta que logo tratou de espalhar a notícia.

Antes que você me taxe de burro ou de anta, tentando descobrir conexão entre as minhas aparentes pueris palavras, esclareço essa esculhambação zoológica. É que hoje acordei ao som da cantoria de pássaros. Sapos e grilos ainda dividiam a melodia da fantástica mãe natureza com os ouvidos meus. Na seqüência, lendo um jornal de data já superada, vi uma notícia de um homem que estuprara a própria irmã. E essa animosidade humana revelada na notícia, aliada à integração anterior com pássaros, sapos e grilos, remeteu-me à condição animalizada do ser humano.

A maior diferença entre o homem e o animal deveria ser a inteligência, contudo, a irracionalidade humana teima em encurtar essa distância, fazendo-nos, muitas vezes, preferir os animais em detrimento dos nossos próprios semelhantes. O quanto nos assemelhamos a eles! O quanto nos comparamos a eles! Nossa sociedade muitas vezes lembra um grupamento animal, uma manada de seres sobrevivendo ao habitat selvagem - só que se digladiando pelo poder e danificando o próprio ambiente vivente. Às vezes preferia ser um bicho do mato a ter que viver integrando essa aldeia animalizada.

Quando seremos apenas gente?

quarta-feira, 19 de março de 2008

Ilusão Descabida


A fama é a ilusão coletiva de uma vida 100% exuberante. O que dizer além disso? Salvo as celebridades pré-fabricadas que duram pouco, goza o famoso de uma grande exposição de mídia e de uma conta bancária avantajada. Desperta a cobiça dos pobres (de espírito) e comumente joga o afamado numa lama de vaidade e perdição. Daí, de lado a lado, se produz essa ilusão descabida.

A morte é o mistério menos ‘misterioso’ da humanidade. Morrer é o que há de mais comum e, ainda assim, o ser humano ‘morre’ de medo do findar. Descabelam-se os mais íntimos, choram os mais ou menos chegados, desperdiçam lágrimas os que fingem gostar do defunto. E eis que ele - o defunto - parte de volta pra casa, deixando uma sensação de que se extinguiu, corroborando para essa ilusão descabida.

Todos os dias morrem Josés, Antônios, Marias e Josefas. Todos os dias choram familiares de gente simples, desafortunada, desamparada. Essa é a realidade humana. Entretanto, vez por outra se vai um famoso, superestimado, ídolo da miopia geral. Vez por outra desperdiçam lágrimas os familiares de gente conhecida, choram os amigos de verdade e descabelam-se os que sequer conheciam o defunto. E eis que se produz, novamente, essa ilusão descabida.

Hoje, o mendigo Zé Biu bateu as botas, vítima de um atropelamento. Silêncio absoluto. Nenhuma linha escrita em lugar nenhum, sequer um caixão e um túmulo para enterrar o homem. Diferentemente de Zé Biu, causou comoção nacional (na Inglaterra) o falecimento do diretor de cinema Anthony Minghella - que dirigiu filmes como ‘O Paciente Inglês’ e ‘O Talentoso Ripley’ -, vítima de uma hemorragia cerebral. Repercussão mundial. Muitas cifras serão gastas num enterro.

Zé Biu e Minghella encontraram-se agora a pouco num espaço distante. O abismo absurdo que divida os dois em vida ali não existia. O mendigo e o cineasta famoso agora dividem as atenções do divino. Seus corpos, contudo, apodrecem sob a terra, nas mesmas condições. E enquanto a vida se refaz para os recém-desencarnados, a coletividade segue reproduzindo a tão repetida ilusão descabida.

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E aí? Cá entre nós: quem anda assistindo o BBB, hein???

terça-feira, 18 de março de 2008

As Maravilhas do Entendimento Humano

Animosidade.
Animais com cérebro pensante.
Medo.
Homens que confundem coragem com estupidez.
Sobrevivência.
Espécie devoradora do próprio sistema vigente.

O que houve com o entendimento humano?

Comunicação é a palavra de ordem, mas o mundo moderno emperra na ausência de palavras conciliadoras. As nações se isolam buscando conquistar o todo, contudo, tropeçam umas nas outras por falta de um diálogo construtivo. As empresas digladiam-se devorando mercados e acabam consolidando o desequilíbrio econômico coletivo. As famílias aceleram o passo para a conquista definitiva da estabilidade econômica, mas desestabilizam-se num caminho seco, distanciado, divisor. E os indivíduos, desconexos, perdem-se na ausência de palavras que unam, na presença de uma mudez agressiva, no semear de um vocabulário feroz.

O que houve com o entendimento humano?



Casos dessa ausência de entendimento entre os seres humanos não faltam. Numa esquina da rua onde moro, por exemplo, existe uma pichação com a seguinte frase: “Coloque o seu lixo na sua calçada!”. Pérola das prósperas relações entre vizinhos...

Indo mais a fundo, li hoje na internet sobre uma tentativa de homicídio em Guaratinguetá (SP), após um ‘bate-papo’ via MSN - os dois rapazes envolvidos trocaram ‘acusações virtuais’ e, dias depois, um deles, acompanhado do cunhado, deu nove facadas na vítima. Ou seja, a internet, símbolo atual da ‘aldeia global’, virou palco dessa distorção humana - embora isso não surpreenda, já que o ambiente na web é apenas uma projeção da nossa realidade social.

Eis as maravilhas do entendimento humano. O que teremos à frente, então? Entraremos por necessidade na era da inteligência artificial, com robôs fazendo papel de seres humanos - proporcionando assim algum entendimento? Ou acabaremos nos devorando de tal forma que, inconseqüentes, findaremos apenas sendo alguns num vazio infernal?

O engraçado nisso tudo é perceber que, quanto mais individualistas e enervados nos tornamos, mais acentuamos a vivência coletiva, construindo prédios cada vez mais populosos e enchendo o planeta de novos seres, sem qualquer planejamento global. Eis a antítese reinante...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Ponto de Vista

Tudo dolorosamente pago.
Vago, tentando clarear a vista.
(Ir) real é a vida,
Vivida em duras prestações.
Estou pagando tudo à vista...


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Estou com problemas. Que maravilha! Quem não tem unzinho que não possa compartilhar comigo? Isso é fantástico! Ai de nós não fosse esse vendaval de situações que permeia a vida humana, fazendo-nos amadurecer - nem que seja à força.

Assim deveria ser o nosso foco, dia-a-dia: enxergar toda e qualquer situação como natural e necessária para o crescimento pessoal. Degraus foram feitos para serem subidos; obstáculos, para serem superados; problemas, para serem resolvidos. O Dalai Lama disse certa vez que as preocupações são tolas: “Se um problema tem solução, para quê preocupar-se com ele? Se não tem solução, para quê preocupar-se?”. Quanta sabedoria... E olhe que, na minha modesta opinião, toda “problemática tem solucionática” (como um dia definiu o enigmático Dadá Maravilha). Tudo depende apenas do nosso ponto de vista...


Para complementar a idéia deste post, nada melhor do que olhar em volta e enxergar o problema dos outros. Nosso mundo está cheio de exemplos muito mais complicados que o nosso. Vide o caso de Ednaldo Santos da Silva (foto), pernambucano, analfabeto, condenado a 01 ano e 11 meses de prisão por porte ilegal de armas. Preso no Aníbal Bruno, passou 09 anos (isso mesmo: nove anos!!!) encarcerado e esquecido pelo poder público. Pai de dois filhos, viveu o inferno dentro da prisão, numa cela que deveria abranger 05 detentos, mas que continha 19. Solto semana passada, sentia-se aliviado, mas revelou que vai buscar seus direitos como cidadão.

A história de Ednaldo é somente uma dentre vários outros casos semelhantes no sistema carcerário pernambucano (e nacional). Essa é uma triste realidade, ainda que não seja das mais graves em nossa fragmentada sociedade.

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E aí? Qual o tamanho do seu problema?

sexta-feira, 14 de março de 2008

Como é Bom te Escrever...

Meus versos não deixo soltos;
Amarro-os em mim
Para guardar, assim,
O que extraio de ti,
Frases tuas, perdidas,
Que deixas vagando por aí.

Roubo-os por que os vejo
E escrevo porque desejo
Todas as formas de te traduzir...



Essa é a minha homenagem a todos aqueles que costumam dialogar com o papel - e àqueles que apreciam e digerem toda criação poética. Hoje, 14 de março, é o dia da poesia. Que continuemos a produzir! Que não nos faltem palavras para expressar o invisível! Que se reproduzam os apreciadores de tal ofício! Que, enfim, possamos, ao invés de perder tempo com as mesquinharias do dia-a-dia, nos conectar através das palavras. Que assim seja...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Antropófagos Urbanos


Eis a tribo mais perigosa de todos os tempos: a atual sociedade humana. Coletividade mais desunida e desarmônica nunca houve, ouso dizer (acho que nem em tempos de guerra mundial). Grupamento cínico, desordenado, egocêntrico. Contramão do sentido do que é ser coletivo - multidão de indivíduos desagregados do todo.

O reflexo dessa antropofagia urbana é visível na atitude de cada ser humano. O caos reveste tudo: o trânsito, os condomínios, o separatismo - cultural, racial, social. A aldeia global é fracionada. A globalização é uma farsa, exposição geral de um todo desmembrado, como uma esfera ‘quebrada’ e ‘unida’ por seus cacos quebradiços.

O mundo é uno e todos somos um, isso já foi dito. No entanto, a vida humana segue dividida: países, etnias, políticas... Tudo segregado. Às vezes parece que somos extraterrestres num planeta chamado Terra...

Antropófagos. Gente comedora de gente - que come no sexo, que come no dinheiro, que come pra se dar bem. Gente que se dana a comer a vida toda, até que vê a própria ânsia se esvair com a morte. O homem, então, sofre processo contrário, vê-se matéria comida pela terra, enquanto se liberta dos laços terrenos. Será a morte física a vingança antropofágica da vida? Ah! Se for... Quanta ironia...

quarta-feira, 12 de março de 2008

Meu Recife


471 anos. E eu aqui, todo orgulhoso. Tenho costume de dizer e reafirmo: sou mais recifense que pernambucano (só um pouquinho mais), mais pernambucano que nordestino (sim), mais nordestino que brasileiro (muito mais). Não se trata de bairrismo. É algo que não sei explicar. Um orgulho danado de ser parte de um povo guerreiro, que sempre lutou pelos seus próprios direitos, que fez da sua luta um impulso para o verdadeiro sentimento patriótico (eita palavrinha chata!), que sempre foi vanguarda na sua rica cultura, que vive os próprios sonhos - ainda que não detenha a mídia nacional, nem o poder econômico de outros centros.

O aniversário do Recife traz à tona a sua importância para o Brasil, esse país tão desigual e discriminador, essa nação ‘desmembrada’ em unidade e que tanto menospreza o que tem de melhor. Sem querer ser excludente, acho que o Recife não precisa do glamour que outras metrópoles nacionais têm – muitas vezes sem nada demais para oferecer. Que o digam seus artesãos, seus produtores culturais, seus poetas, atores, artistas em geral; gente que produz, mesmo que a sua obra não ganhe a merecida repercussão; gente que acredita que viver é materializar os próprios sonhos; gente que, ao invés de parecer ‘fashion’, prefere apenas ser gente.

Talvez minhas palavras já estejam descambando mesmo para um bairrismo pueril. Fato é que, vivendo numa nação dominada pela mídia e pela má política, prefiro mesmo estar aqui – ainda que no Recife, evidentemente, muitas mazelas morais e sociais persistam. Sou recifense, sim, com muito orgulho. E nesta data sinto-me, também, homenageado.

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E o que dizer de ti, Olinda! Castigada pelo desprezo de alguns, amada pelo que é pela maioria do seu povo. Olinda do Carnaval. Olinda prima do Recife. Olinda, sim, linda, minha prima também. A ti também deixo minha homenagem...

terça-feira, 11 de março de 2008

Tragicômico

Flagro-me em inquietantes divagações.
Penso, falo, ajo.
Enxergo-me muitas vezes infantil,
Por vezes tão maduro,
Vez em quando quase podre.

O que sou?

Palhaço infeliz!
Ser humano repleto!
Lindo, horrível, chato, engraçado...
Tragicômico...



88 anos. Senilidade aparente na face, no corpo, na mente. Viajar de avião, uma belezura! Na poltrona confortável da aeronave, um mirar em todos os rostos que a enfadada visão podia alcançar. As rugas aparentes na face murcha denotam um passado que nele deixara profundas marcas. A viagem é longa, mas não tanto quanto a própria jornada até ali vivenciada.

O tempo segue. Os pensamentos vagueiam. Eis que, num momento inesperado, o cansado olhar viu um semblante de pureza. Na poltrona ao lado viajava a garota de 11 anos, sozinha, alheia ao mundo. O leve sorriso nos lábios do velho foi apenas um sinal - contentamento pueril ou malícia indisfarçável? -, ali mesmo encenado. Em poucos segundos o quadro se consolida. A menina levanta-se abruptamente, lágrima nos olhos, nó na garganta. O tumulto estava consolidado.

O assédio sexual, assim, ganhou destaque na mídia. O que leva um idoso a se comportar de tal maneira? Vê-lo se defendendo na TV deixou uma sensação que aliava comicidade e tragédia, o vovô senil acusado de algo que, pelo que se vê, há muito se tornou coisa do passado. Eis mais um quadro tragicômico de um mundo movido a manchetes policiais.

88 anos. Senilidade aparente na face, no corpo, na mente...
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* O texto acima foi baseado em fato verídico, acontecido num vôo São Paulo-Petrolina, em 10 de março de 2008. Esse é o nosso mundo...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Interrogação

O presente
É o futuro do passado.
O futuro
É o hoje do amanhã.
O passado é pretérito,
Hoje do ontem,
Ontem do hoje e do amanhã.

O que tens feito
Com o teu tempo, então?

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Ontem passou e nada postei. Não foi questão de mera ociosidade, apenas um domingo regado a trabalho, utilizado para ‘cobrir’ pendências não concluídas durante a semana. Isso me trouxe a questão do viver, do viver bem e do viver melhor (o que fazer do próprio tempo). Não seria o primeiro dia da semana de total descanso? Teria eu infringido tal ‘lei’? O que é mais produtivo, então?

Eis o foco de hoje: o tempo, o ser e a produtividade.

Estamos ‘presos’ num ciclo temporal - passageiro, é verdade, mas não menos aprisionador. O que é mais ‘correto’, então? Ser rigidamente disciplinado ou buscar mais liberdade? Viver as regras do jogo ou infringi-las quando bem entender? Ser ou ter? Qual a melhor interrogação?



Para realçar os questionamentos acima e acirrar as opiniões, deixo a lembrança do genial Ray Charles: cego, independente, livre, original. Ainda que tenha ‘quebrado’ muitas regras, viveu aprisionado a um trauma de infância; ainda que negro, uniu um povo racista através da música; ainda que cego, marcou a história de um mundo que teima em não enxergar. Talvez seja essa a receita, unir os opostos e abrir a cabeça, fazer o que deseja e manter uma certa disciplina, ser antagônico quando todos são iguais. Somos regidos por inúmeras leis, mas podemos ser livres...

O que estamos fazendo com o nosso tempo, então?

sábado, 8 de março de 2008

Distorções de um Mundo Dividido

“E assim Deus criou a mulher”...
(ecos sobre a fantástica alegoria de Adão e Eva)

- Dizem que a expulsão do paraíso aconteceu após a primeira TPM de Eva - Adão que o diga!

- Dizem que o pecado original surgiu da zoofilia – Adão não agüentou o breve jejum sexual, quando Eva menstruou pela primeira vez, e créu (!) no pobre do burrinho...

- Dizem que Adão foi o primeiro ‘corno’ do mundo... (claro que foi o burrinho que ‘chifrou’ ele, né???)

- Agora, falando sério, dizem que Deus criou a mulher para ser tudo o que Ele É... (por isso elas são tão maravilhosas...)



08 de março, Dia Internacional da Mulher. Inevitável enaltecer a força do sexo feminino no mundo. A sensibilidade nata no foco preciso - maravilhosamente expressa no inquestionável sexto sentido -, o dom materno, a sensualidade, a delicadeza, a absoluta habilidade em se dividir sem perder a própria unidade; a capacidade de ser atraente e sexy sem ser vulgar - a não ser quando quer -, o tino administrativo aguçado, a beleza única em todo universo... Eis, aqui, o meu olhar sobre o fantástico e intrigante sexo feminino.

Olhando por esse prisma, evidente que a data se fundamenta - até porque ela se originou em homenagem a centenas de operárias americanas, massacradas em meados de 1800. Contudo, esse festejar internacional revela a ainda fragilidade nas relações sociais humanas. A sociedade engatinha na questão da justiça e da igualdade: patina na relação homem e mulher, escorrega feio na questão da homossexualidade e ainda se machuca pra valer nas relações inter-raciais.

Nesse contexto, desnecessário é dizer que o Dia Internacional da Mulher será, um dia, dispensável - assim como todas as outras datas surgidas em nome da igualdade e da justiça. Não tenho dúvidas que, no amanhã, quando entendermos enfim o que é viver em coletividade, esses festejos perderão vez. Aí não teremos mais esses dias comemorativos, recheados das distorções do nosso mundo dividido; seremos justos e iguais todos os dias com o nosso semelhante: homens, mulheres, homossexuais, negros, brancos, adultos, crianças, ricos, pobres...

Mas, enquanto essa época não chega, sigamos nos esforçando, hoje, para estender a idéia de cada comemoração em nosso dia-a-dia, tratando todo e qualquer ser humano com respeito, dignidade e igualdade. Por isso mesmo, façamos das mulheres companheiras de jornada, como na verdade são, indispensáveis para o mundo que queremos ter.

E obrigado, ‘deusas na carne’, por assim existir...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Desiguais

Somos diferentes
Mas com idêntica fonte,
Idêntico Pai,
Essências reais.

O que nos põe em confronto?
O que nos impele a atritar?
O que nos faz desiguais?



Brasil

A Super Interessante de março traz matéria de capa contundente: um olhar miúdo sobre as prisões brasileiras. Não bastassem tantas desigualdades numa sociedade hipócrita, o texto revela o submundo do crime no seio do sistema carcerário do país. Assusta ver o que acontece com quem entra em ‘cana’, especialmente os chamados ‘piolhos’ - gíria para os iniciantes nos delitos. Nas cadeias e prisões nacionais, questões como a homossexualidade, as visitas das parceiras, os preços pagos para comer e dormir, o comando do crime via celular, as extorsões... Tudo isso é revelado com olhar honesto.

Marcante também é a constatação da triste realidade nos presídios femininos, principalmente em relação à homossexualidade. Isso porque, quando a mulher é presa, normalmente é abandonada pelo parceiro e fica à mercê das lésbicas. Muitas transformam os próprios conceitos e preconceitos para não ficarem entregues à solidão.

Quanta desigualdade... Para quem ainda não consegue sequer se socializar, falar em re-socialização parece utopia. Quando aprenderemos o que é justiça e o que é humanidade?


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Mundo

Outra interessante matéria da revista traz ‘mudanças’ nos mapas do mundo, tendo como foco o comparativo econômico entre Estados, Países e Continentes. Através desse olhar, Pernambuco é tão rico quanto o Camboja; a Bahia é tão rica quanto o Kwait; São Paulo é tão rico quanto a Argentina. Sob outro prisma, as vendas da Nike são do tamanho do PIB da Níger; as da Nokia equivalem à riqueza de Camarões; as riquezas do Banco do Brasil superam as de Mali. Seguindo ainda com novo foco, o Estado da Califórnia tem o PIB do Brasil; o Texas, o da Coréia do Sul; Nova Iorque o de todo o México.

São exemplos curiosos que revelam o quanto nosso mundo é desigual - em renda, em ideais, em justiça.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Genialidade...

Até onde
O intelecto meu
Conduzir-me-á?

Crio-me e recrio-me;
Sou e faço ser;
Testo e atesto-me
Em todas as instâncias minhas.

Mas,
Até onde o intelecto meu
Realmente conduzir-me-á?

(Poesia "O Gênio", integrante do livro "O Rei, a Sombra e a Máscara - Parte III: A Moral da Moral", de Sidney Nicéas - ainda a ser lançado)

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Existem gênios? Quem pode ser considerado acima da média nesse quesito? O que faz de nós gênios? Em Goiânia, um garoto de 8 anos passou no vestibular para cursar Direito. João Victor (foto) quer ser Juiz Federal e é considerado um aluno exemplar – para sua mãe, ele é apenas “interessado e motivado”. João já se matriculou e quer fazer o curso em concomitância com a escola. Sorte? Genialidade?

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Na novela global das 18 horas, um ator vem ‘roubando’ a cena. Portador da Síndrome de Down, André Varella, além de ator, é poeta e toca alguns instrumentos musicais. Ainda que com uma certa limitação por conta da Síndrome, André tem desenvoltura e atua com naturalidade. Inclusive, será a estrela de um espetáculo produzido por Lima Duarte, ainda sem data de estréia. Genialidade?

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Exemplos na história do nosso planeta não faltam: Jesus, Aristóteles, Mozart, Disney, Pelé... Descartando as circunstâncias de época, o que foram eles? Homens com grande capacidade intelectual? Pessoas que nasceram com sorte? Figuras espertas que aproveitaram suas oportunidades? Estudiosos? Gênios?
E você, acha que poder ser mais???

quarta-feira, 5 de março de 2008

Limites

Tenho como divisa a virtual linha que define o meu e o seu direito. Somos todos um, é bem verdade, mas ainda dispostos numa condição social e humana que não nos permite ignorar isso...


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Porter é um garoto americano, uma das estrelas de um time de basquete de Utah. Ele também é titular de uma equipe de basebol e tornou-se uma das sensações da sua escola, considerado pela maioria como um exemplo a ser seguido. Tudo isso seria ‘comum’ se se referisse a uma estrela de Hollywood, ou até mesmo a alguém superdotado. Mas, não. Estamos falando de um jovem rapaz que perdeu o braço direito num acidente de carro, quando era criança. Isso mesmo. Ainda que com apenas o braço esquerdo, joga muito e mostra a todos o quanto é possível superar limites. “As dificuldades aparecem ao longo da vida e o segredo é enfrentá-las” – frase do vencedor...


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O exemplo do jovem americano é só mais um nesse vasto mundo. Contudo, ele deixa uma sensação paradoxal: por que, na maioria das vezes, precisamos ‘perder’ algo para nos superar? Nascemos numa sociedade limitadora, fundamentada no medo e na não-aceitação. Crescemos temendo um Deus que pune, sendo educados com um excesso de ‘não’s, acreditando que somos ‘pecadores’, pobres e fracos. A cada dia descubro que sou mais, que podemos ir muito além do que somos, que Deus faz parte de mim – e vice-versa – e que a vida é uma ilusão necessária, um tempo em que se deve explorar os limites de nós mesmos. Quando, enfim, libertaremos esse ser poderoso que em nosso âmago habita? Até quando permaneceremos amiudados?

terça-feira, 4 de março de 2008

Vogais em Nós...


O ‘a’ penado.
O ‘e’ brioso.
O ‘i’ limitado.
O ‘o’ culto.
O ‘u’ fanado.

Há paradoxos em ti.
Única sílaba em vós.
Há antagonismos em mim.
Muitas vogais em nós...


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Somos seres interessantes. Cultuamos o belo e adoramos o trágico. Enaltecemos o morto e desvalorizamos os que dividem a vida conosco. Amamos e odiamos. Levamos tempo para construir o ‘bom’ e em segundos jogamos tudo para o alto.

Nas manchetes dos jornais de hoje (e também de todos os dias), encontramos o curioso antagonismo que nos preenche: o taxista preso envolvido com o tráfico de drogas; o padre afastado por abuso sexual; as meninas anoréxicas em busca da beleza; mãe e filho envolvidos em assassinato; alunos em passeata pela paz. Aonde queremos chegar? Quando entenderemos o que realmente somos? Quando escolheremos ser mais?


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Você deve estar se perguntado do por que da imagem que ilustra esse post. Pois bem. Nada melhor do que esse forte retrato do nosso Brasil para realçar a noção de antagonismo aqui explorada: a gestante buscando no lixo o alimento (seu e do ainda feto); a degradação de uma grande e marginalizada parcela da população; a nossa ação ou inanição ante a vida coletiva. Sim, não tenho dúvidas: há muitas vogais em nós...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Diga-me se sou Deus

Sim! Meu Deus sou eu!

Porque se posse atingir a felicidade
Com as minhas próprias pernas...
Se posso alçar a minha mente
Para além do planeta Terra...
Se posso fazer valer a minha força
Para ter a vida eterna...

Sim, sou Deus!

Deus está em mim,
Está aqui, ali,
Em cima, embaixo,
Onde procurar eu acho.

Deus não é alguém.
Deus não é ninguém.
Deus apenas É
E eu sou também...


Hoje li duas matérias que me chamaram a atenção, ambas veiculadas na BBC Brasil e ligadas à visão humana de espiritualidade. A primeira, revela que uma garotinha nepalesa de 11 anos, Sajani Shakya, decidiu se aposentar. É que a menina era considerada, desde os seus dois anos de idade, uma Kumari - ou deusa viva - e, após a família decidir que ela passaria por um casamento simbólico (ritual comum na infância), ela abdicou do título. Hoje, teme não ser bem aceita socialmente por não ostentar tal honraria.

A outra notícia veio da índia e refere-se a um transexual inglês, Stephen Louis Cooper, que há pouco mais de dois meses vive em Becharaji e, lá, é considerado por milhares de adoradores como um mensageiro de Bahuchar Mata – deusa dos eunucos indianos. Adotando o nome de Pema, Cooper pretende ficar por lá, se possível, o resto de sua vida. “As pessoas aqui têm sido muito amáveis. Eles tocam meus pés e, quando eu toco suas cabeças, sinto amor e alegria - pura e imaculada", declarou.

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A poesia-título (publicada no meu primeiro livro, “O Que Importa é o Caminho”), remete-nos a condição de ser Deus. Quem duvida disso? Não foi Jesus um homem extraordinário - Deus na carne? Pois bem. As notícias aqui comentadas trouxeram à lume a visão que o ser humano tem do que é divino. Continuamos buscando Deus fora de nós, em outrem, numa transcendência utópica. Deus é como nós. Nós somos como Deus. E por isso devemos ser mais alegres, mais gratos, mais amorosos, mais humanos... Eis uma verdade indubitável, que habita nosso interior e espera o nosso despertar. Alguém duvida disso?

domingo, 2 de março de 2008

O Dia Seguinte...

Hoje é domingo. Inevitável a lembrança do dia seguinte. Segunda-feira... Que tem demais? Segundo dia da semana (claro, domingo é o primeiro), este dia ficou estigmatizado na sociedade humana. É o dia de retorno ao trabalho, a volta de um domingo de descanso, o reinício da batalha cotidiana...

Segundo estudo realizado no mercado financeiro pela Fundação Getúlio Vargas, até o pregão da Bolsa de Valores sofre nesse dia, em média, com um índice de ganhos 0,7% menor que os demais dias da semana. E esse índice é semelhante em outros países.

Mas há outras considerações a se fazer sobre essa questão. Primeiro, o foco do ser humano, sempre curto, enxergando um dia como outro qualquer como vilão. Ora, o tempo terreno é feito de ciclos e a vida humana, idem. É preciso aprender a recomeçar. Isso se chama oportunidade, não sacrifício.

Também, vale o registro da tendência ao ócio. Culturalmente, aprendemos que o paraíso é um mar de ociosidade, prêmio para os ‘bons’, que passarão a eternidade tocando harpa e trocando idéias com anjos gordinhos, especialistas na arte de não fazer nada. Balela! O trabalho é bênção. O que seria do homem sem ocupação? O que seria da vida sem doação? O que seria do universo sem ação produtiva?

Finalizando minhas considerações, chego no ponto ‘G’: o medo, o temor nosso de cada dia em fazer valer nossa individualidade ante uma vida social coletiva. Somos, sim, adeptos do medo. Tememos perder o emprego, mas odiamos a segunda-feira; tememos a falta de dinheiro, mas trabalhamos queixosos; reclamamos das atitudes alheias, mas insistimos em machucar as pessoas. Não somos filhos do medo, mas agimos com subjugo em relação a ele. Quando aprendermos a ser a rica essência que verdadeiramente somos, talvez olhemos para a segunda-feira com alegria, aproveitando a oportunidade de ser mais.

Mas, enquanto não chegamos lá, vamos nos solidarizando com o velho Garfield, que vive dizendo que a segunda-feira é um péssimo dia, ‘o dia da torta na cara’. Será mesmo?

sábado, 1 de março de 2008

Prateleira

Longe da estante
Vi o porta-retratos
Tua foto, um instante
Meus olhos pegos num flagrante
Distantes da imagem real.

Pego-me sem saber quem sou...

Eu, tu, a foto e o porta-retratos:Quem somos nós, afinal?



São Paulo vive momento intrigante. De acordo com matéria da ISTOÉ, luzes têm aparecido no céu nas madrugadas paulistas, além de grandes marcas nos canaviais têm sido encontradas nas manhãs seguintes (foto). Essas cidades do interior estão virando centro das atenções de ufólogos e curiosos, ávidos para comprovar a existência dos OVNI’s e, mais ainda, de vida extraterrena.

Pois bem. Não tenho dúvidas de que não estamos sozinhos nesse vasto universo. Ainda que a vida humana seja feita de um complexo extraordinário, sei o quanto o ser humano deixa a desejar, especialmente no aspecto moral. Seria muita pretensão acreditar sermos únicos num universo infinito, ‘homenzinhos beges’ (em contraponto com os que batizamos de ‘homenzinhos verdes’), que não utilizam nem 10% de sua capacidade real.
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Nesse aspecto particular, vejo o céu como uma imensa prateleira, reunindo todas as verdades que para nós ainda são mistério. “Quem somos nós, afinal?”.