sexta-feira, 21 de março de 2008

Homens Animais


Jorge é meu peixe. Inteligente. Prestativo. Realmente um bom amigo.
Débora é a minha prima. Devassa. Namoradeira que só ela. Uma cachorra.
Genival é um jumento. Segundo a ‘lenda’, grosso e avantajado (dizem, né?).
Seu Camelo é o pai de Genival. E, por ironia do destino, esse é realmente o seu nome, embora ele tenha uma corcunda daquelas – dizem, por maledicência, que tem ‘as bolas nas costas’...
Lacraia é um homossexual dos mais açucarados. Vive pra cima e pra baixo com um shortinho minúsculo, provocando os mais preconceituosos.
Dona Cláudia é uma mosca morta. Vizinha de Jorge, não se mexe nem pra beber água. Sua vida é somente a observar a vizinhança, com toda aquela gordura exuberante.

Pois bem.

Meu peixe começou a namorar a cachorra da minha prima. Ela, safada como sempre, passou a dar umas puladas de cerca com o jumento do Genival. Seu Camelo ficou danado da vida com a safadeza do filho, mas só perdeu as estribeiras quando ouviu Lacraia comentando com terceiros que Genival era de fato um jumento. E tudo sob as atentas vistas da obesa Cláudia, a mosca morta que logo tratou de espalhar a notícia.

Antes que você me taxe de burro ou de anta, tentando descobrir conexão entre as minhas aparentes pueris palavras, esclareço essa esculhambação zoológica. É que hoje acordei ao som da cantoria de pássaros. Sapos e grilos ainda dividiam a melodia da fantástica mãe natureza com os ouvidos meus. Na seqüência, lendo um jornal de data já superada, vi uma notícia de um homem que estuprara a própria irmã. E essa animosidade humana revelada na notícia, aliada à integração anterior com pássaros, sapos e grilos, remeteu-me à condição animalizada do ser humano.

A maior diferença entre o homem e o animal deveria ser a inteligência, contudo, a irracionalidade humana teima em encurtar essa distância, fazendo-nos, muitas vezes, preferir os animais em detrimento dos nossos próprios semelhantes. O quanto nos assemelhamos a eles! O quanto nos comparamos a eles! Nossa sociedade muitas vezes lembra um grupamento animal, uma manada de seres sobrevivendo ao habitat selvagem - só que se digladiando pelo poder e danificando o próprio ambiente vivente. Às vezes preferia ser um bicho do mato a ter que viver integrando essa aldeia animalizada.

Quando seremos apenas gente?