segunda-feira, 9 de novembro de 2009

'Estelionato Poético'


Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantas criaram o forró, não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hoje se multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem o nome forró para a música que fazem. O que esses conjuntos musicais praticam não é forró! (...) E se apresentam como bandas de “forró eletrônico”! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzaga já faziam o verdadeiro forró eletrônico, de qualidade, nos anos 80”.
(Anselmo Alves)

O povo gosta de ser lesado. A maioria. Eu não. Uma multidão de gente que não se importa com a qualidade do que ouve. Que não se incomoda com o baixo nível das músicas que abarrotam as esquinas da cidade. Que é conivente com o estupro que o mercado fonográfico praticou contra um dos maiores ícones da nossa cultura: o forró.

Estupro? Sim. Ou talvez, para ser mais polido (mas não menos incisivo), plagiando o termo muito bem alcunhado por Anselmo Alves (autor do trecho reproduzido acima), ‘estelionato poético’. Roubaram a nomenclatura e estupraram o estilo (olha que esse termo cai bem...). Vulgarizaram as letras. Empobreceram o ritmo. Transformaram a originalidade do forró num quase brega de batidas repetitivas, reduzindo a outrora poética riqueza regional num aglomerado de frases apelativas.

Esse mal rotulado ‘forró’ passou a seguir caminho diferente daquele estilo originário marcante. Mulheres seminuas explicitam as letras no palco. O machismo impera nas ‘mensagens’ deflagradas nas músicas. A ‘gréia’ se sobressaiu ao lirismo. E o resultado é esse mar de pobreza, que vem deixando pérolas como “quem vai querer a minha piriquita”, ou “você pede e eu te dou lapada na rachada”, cantadas como um ‘mantra’ pobre e chulo.

Um ritmo como o autêntico forró merecia uma evolução, não esse retrocesso, impulsionado pela ânsia do mercado em ganhar dinheiro e movido pela ignorância cultural da maioria. Existe uma geração de forrozeiros que permanece fiel às origens, contudo, talvez ande faltando mais criatividade (e vontade comercial) para retomar a grandeza de outrora sob nova (e decente) roupagem. Talvez.

Para mostrar que esse tom crítico nada tem de intransigente, reproduzo novamente as palavras de Anselmo Alves, fazendo das palavras dele as minhas:

Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração que se acostumou com o lixo musical! Não, meus amigos: não é conservadorismo, nem saudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho! Que o digam Chico Science e o Cordel do Fogo Encantado que, inspirados nas nossas matrizes musicais, criaram um novo som para o mundo! Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual e ao alcoolismo! (...) Eu quero meu sertão de volta!

E se alguém anda alheio a tudo isso, deixo link para um vídeo que muito bem reforça o que foi aqui abordado. É só clicar e conferir uma ‘pérola’ dessa baixaria musical. Uma lástima...

http://www.youtube.com/watch?v=yr-IQVQQHuA
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