sexta-feira, 28 de maio de 2010

Outros Tempos...

Seguia com certa avidez pela Avenida Doutor José Maria, na Tamarineira, já nas imediações do Parque da Jaqueira. Dirigia meu veículo com destreza, tentando chegar logo ao meu destino, já que tinha importante compromisso de trabalho.

O semáforo amarelou. Acelerei para fugir do seu vermelho inclemente. Sem correr riscos, atravessei o cruzamento com a Avenida Rosa e Silva. Tudo tranquilo. Todavia, um pedestre atravessava a rua mais à frente. Nenhum risco de colisão. Reduzi a velocidade, normalmente, e aí percebi que o transeunte era um senhor de idade, que andava com certa dificuldade e gesticulava brandamente com as mãos, como que pedindo calma para que atravessasse em segurança. Viajei naquela imagem...

Em mim, a constatação de que, sim, vivemos outros tempos. A era da aceleração, da correria, da desatenção, da individualidade. Ao passar pelo velho homem, dei uma buzinada de leve, como que me solidarizando como ele. Em vão. Pela sua expressão desolada, percebi que nele ficara a certeza de que está mesmo ultrapassado – alguém de uma época mais amena ‘forçado’ a viver nessa selvageria social da atualidade. E ainda que eu, conscientemente, não me sinta incluído nisso, não deixei de me afetar.

São outros tempos, realmente. A selvageria superou o bom senso. A sede pelo poder há muito superou o senso de coletividade. Aí entro naquelas reflexões sobre o futuro. Se o presente assim nós é, como enxergar o futuro?

Foi quando lembrei uma notícia publicada no JB online, datada de agosto de 2004 (assim como o tema foi mote, posteriormente, de várias outras matérias em sites e publicações de renome). O teor? A erupção do vulcão Cumbre, na Ilha de Palma (Canárias), que irá provocar ondas gigantescas que atingirão grande parte do globo terrestre em questão de horas. Sem previsão exata para acontecer, as possibilidades de uma catástrofe global são imensas.

(no Google, bastar colocar o nome do vulcão para conferir as notícias a esse respeito)

Será uma mudança forçada de ritmo? Será a resposta do universo para o bumerangue sangrento que estamos atirando dia a dia? Será o meio mais eficaz para ‘limpar’ nosso planeta de habitantes tão desumanos? Será a confirmação de tantas profecias que vêm nos avisando há tanto tempo? Será?

Independentemente de qualquer resposta certeira, fico com a imagem do senhor de idade tão carente por uma vida mais humana. Sua feição de desencanto ainda provoca em mim um desejo de mergulhar na verdadeira paz que o mundo precisa. Só não sei se esse mergulho dar-se-á nas agitadas águas de um megatsunami...

sábado, 22 de maio de 2010

O Toureiro

Arena sempre lotada. Touros indomáveis à solta. Ameaças ininterruptas. Risco de morte iminente. Desrespeito à vida. Culto à mediocridade. Tradicionalismo decadente. Tragédia que encanta. Diversão às custas do sofrimento alheio.

A arena é o mundo. Os touros, os ignorantes. As ameaças, fruto do desequilíbrio coletivo. O toureiro, assim, é cada um de nós - viventes nesse espetáculo perigoso e fascinante chamado vida. Nascemos. Arriscamo-nos. E com o ornamentado pano do jogo de cintura, teimamos em querer destruir os touros indomáveis que nos ameaçam.

Vivemos (ou sobrevivemos). E esquecemos que essa batalha covarde numa arena é desnecessária. Infligir dor para não ser atingido? Entreter para satisfazer nossa ultrapassada ânsia pelo poder? Subjugar para não querer ser subjugado?

Arriscamo-nos, é verdade. E é aí onde desandamos. Viver, então, deveria ser apenas nobre ato de contrição perante a própria magia de estar vivo. Com dignidade. Fazendo da arena não um campo de batalha, mas, sim, um espaço global que possa ser compartilhado – touros e toureiros em perfeita sintonia.

Eis a verdadeira tourada. Eis o verdadeiro espetáculo. Estou tentando ser o verdadeiro toureiro...

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Que é o Amar...


Um dia todos sentem. Furor que invade o peito e faz qualquer ser perceber que tem, de fato, um coração. Sentimento que chega ainda miúdo, em forma de paixão, mas que, com o passar do tempo, é capaz de assumir formas sublimes.

Em seus galopes mágicos os ponteiros seguem. E nós, deuses acreditando-se mortais, vamos ‘experienciando’ o que chamamos de amor. A paixão amadurece. E as relações duradouras vão-se tornando fortes elos. Mas... O que realmente os fortifica? O que é, então, o amar?

Para entendê-los é preciso ir além, onde habita a inexistência do bem e do mal. E os relacionamentos, tão repletos dessas duas poções, provam que os verdadeiros elos que os compõem são fortalecidos, dia a dia, por erros e acertos, falhas e virtudes, quebras e redenções.

Eis os ingredientes. Há, mesmo assim, quem pense que o que se quebra não se renova. Quem queira acreditar que as falhas e erros são mais contundentes que as virtudes. Enfim, que o que “divide” fala mais alto do que o que une. Pois bem: a essas pessoas o coração sempre diz: “estou aqui”.

Amar, assim, torna-se muito maior do que o conceito limitado desenvolvido através dos tempos pela nossa sociedade. Amar transcende o lado humano. Torna-nos cada vez mais divinos. Faz, enfim, que dois seres se unam, se multipliquem e, assim, exerçam o mais sublime dom, que é mesmo amar.

Não importa o tipo de relacionamento. A verdade é que, quem ainda não encontrou ‘o par’, que espere. Quem já encontrou, que não perca. E quem acha que já perdeu, que se anime: tudo no universo se renova – e essa alquimia se dá exatamente através do amor...