terça-feira, 29 de junho de 2010

Caos Digital


Sorria... Você está sendo filmado.
Somos todos monitorados nesse mundo das ilusões.
Você é o número do CPF.
A senha do banco.
A identidade.
O contra-cheque.
O número do cartão.

A sua realidade é virtual.
Microcâmera, microfone, satélite.
Vírus, disco rígido, spyware.
Biorrede, nanotecnologia, telescópio.
Luneta, olho nu, binóculo.

Seu nome são números camuflados.
Você é um e-mail constantemente acessado.
Orkut, Messenger, you tube.
Paparazzi, voyeur, a fofoqueira de plantão.
GPS, celular, onda de rádio.
A fechadura da porta.
A máquina digital – vídeo e foto sempre à mão.

A sua cabeça é a Internet.
Você é apenas um código nesse caos digital.
Corpo são, mente sã, tudo sempre conectado.
Por isso não adianta se esconder...
Você está sendo filmado...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

5 de Copas

O dia é 17. O mês, junho. O ano é 2010. Cinco, contudo, são as reflexões...

A primeira é futebolística. A Copa do Mundo está aí trazendo inúmeros paradoxos. Do luxo dos estádios à pobreza do povo africano. Da festa multicolorida dos endinheirados à fome que assola boa parte do continente africano. Do patriotismo quadrianual do brasileiro ao sentimento de que a política do pão e circo nunca saiu de moda...

A segunda vem dos céus. As fortes chuvas que assolam a capital pernambucana chegam trazendo um pouco de frio a essa terra calorenta. Vem do alto provocando estragos cá embaixo. E revela que a infraestrutura do Recife continua a passos lentos, especialmente quando comparada com o acelerado ritmo do seu crescimento urbano.

Com o cair das chuvas vem a terceira reflexão: a proliferação da Dengue. Recife já teve, em maio, a primeira morte provocada pela doença. O que está faltando? Empenho das autoridades? Ou dedicação da própria população?

A quarta invade a greve dos professores da rede recifense de ensino. A educação, área tão esquecida pelas nossas políticas públicas, permanece sendo alvo de protestos. Dessa vez, ao menos, os alunos não estão sendo prejudicados. Fico somente a me questionar até quando o desequilíbrio nessa área persistirá...

A quinta e última reflexão: os festejos juninos. Estes que também trazem inúmeros paradoxos. Do sentido religioso à festa predominantemente pagã. Da tradição ultrapassada dos fogos e fogueiras às delícias da culinária a base de milho. Do predomínio sazonal do forró (do original e do falsificado) às grandes festas com atrações que nada têm a ver com a nossa cultura.

Pois é. O dia é 17. O mês, junho. O ano é 2010. Cinco, contudo, são as reflexões...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

7 HÁ

cegueira no olhar.

Por isso às vezes olho...

E não enxergo.


loucura na mente.

Por isso às vezes penso...

E não raciocino.


vida em meu coração.

Por isso às vezes morto...

Sinto-me vivo.


tristeza na alegria.

Por isso às vezes triste...

Ainda sorrio.


Tudo em mim.

Por isso mesmo sem estar...

Estou aqui.


.

Podes crer que ...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ponto de Maturação

Nascer é, literalmente, um parto. A dificuldade de vir ao mundo. O impacto da chegada, o esforço para a primeira respiração, os primeiros momentos de adaptação a uma nova realidade. Passei por tudo isso, como todos passamos, embora sem a consciência real desse nascimento.

Três anos são suficientes para a referida adaptação. Período esse em que o pequeno ser a tudo ama. Ele é pleno, livre, autêntico – ainda que dependente. E é com o passar dos anos que a sociedade “molda” o indivíduo. As noções do certo e do errado, o sim e o não, a dualidade que permeia a vida social humana. Passei por tudo isso, como todos passamos, embora só alguns despertem, com o tempo.

Eis o ponto de maturação. A maioria morre e sequer atinge esse ponto. Vive como mais um ingrediente da massa. Os que despertam, sim, passam a compreender melhor a realidade que cerca todos os viventes. E a “verdade” que surge para cada um só amplia a responsabilidade de viver e contribuir com o mundo à volta.

A grande questão é que, nesse trajeto, vivenciando o tal ponto de maturação ou não, todos perdemos algo. A vida é assim. E o pequeno ser que amava a tudo passa a amar cada vez menos coisas. O mundo vai se fechando à medida que as dores burilam. E o admirável mundo novo vai se tornando cada vez menor. Estou passando por isso, como muitos também estão, embora só alguns tenham consciência disso.

Hoje, por exemplo, posso contar nos dedos as coisas que amo. E talvez nem complete os dedos das minhas duas mãos. Mas não posso, não devo e não quero me reduzir nesse contexto. Nascemos para ser “mais”. E é somente buscando a nossa natureza divina que podemos conquistar a singularidade num mundo tão plural – e desigual.

Eis o ponto de maturação...