terça-feira, 13 de abril de 2010

A Sede e a Vontade de Beber


Um numeral

Escrito por extenso

Não deixa de ser um numeral.

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Um ser vivo

De carne, sangue e osso

Não deixa de ser espiritual.

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E eu?

Numeral de carne e osso

Escrevendo minha vida por extenso...

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O que sou, afinal?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A Massa

A fila do banco estava pequena. À minha frente um senhor de idade aguardava atendimento preferencial. Seu Biu era como o chamavam. E estava danado a resmungar. “Todo mundo quer dinheiro de qualquer jeito... Querem saber nem de onde o danado vem!”. E emendou: “Eita cambada de aboio!”.

Seu Biu. Roupa simples, jeito matutão, sabedoria aparente. “Cada povo tem o governo que merece!”, complementou. Eu, até agora, não sei a razão dos resmungos dele, contudo, sou obrigado a concordar. Nosso povo vive alheio à realidade – como se esta fosse imutável. Submissão perigosa, que acaba colocando a maioria no rol da “cambada de aboio” de Seu Biu. Boa definição.

Seu Biu é analfabeto. Tem 79 anos de idade. E, segundo ele mesmo, nunca vendeu o voto, não assiste televisão e gosta mesmo é da conversa ao pé do ouvido. Vive dizendo que muitos o consideram meio doido. Mas – disse-me ele – “doida é a massa”. E é essa simplicidade irreverente que muito bem define a nossa sociedade.

A massa. Maioria capaz de viver completamente alheia à maior capacidade humana: a de transformar a realidade. Tão afeita a rótulos dos mais variados. Tão comum. Tão igual. Tanto que sequer percebe o próprio poder mágico interior, capaz de fazer a mais difícil alquimia da vida – ser maior e melhor a cada dia, individual e coletivamente.

Pois é... Seu Biu tem mesmo razão. Melhor ser considerado doido, mas autêntico, do que ser apenas integrante dessa massa infeliz. Pois é...