quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Porta Aberta Para o Abismo da Ilusão


Notícia atual: o vice-prefeito da cidade de Itapetinga, na Bahia, ofereceu seu próprio salário de R$ 6.500,00 para que um médico aceitasse trabalhar no sistema municipal de saúde. Ninguém se candidatou. A cidade só conta com três médicos, dos quatorze aprovados em Concurso. E, por questão de salário, ninguém quer assumir o posto.

Salário... R$ 6.500,00... Uma mixaria... O povo que se dane...

E eu fico aqui me lembrando do grande Bezerra de Menezes (1831-1900), médico abnegado que, certa vez, definiu o exercício de sua profissão: “Um médico não tem direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito lhe bate a porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro ou que, sobretudo, pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem chora à porta que procure outro, esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um infeliz, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vais-e-vens da vida".

Apesar da sabedoria desconcertante de Bezerra de Menezes, os exemplos do foco no poder material não se resumem à medicina, muito menos ao caso de Itapetinga. Não é preciso muito para notar os esforços desmedidos dos mais afortunados, em TODOS os segmentos da vida humana (profissional, religioso, social etc) para fazer valer a “lei do mais forte”. A maioria embarca nessa onda. A mídia permanece criando seus “astros inigualáveis”, modelos infalíveis da nossa própria mediocridade. A sociedade teima em se basear nesse sistema. E a humanidade, de tão “rica”, vai ficando cada vez mais empobrecida.

Esse poder em voga não tem valor. Poder monetário, onde o considerado “forte” tem mais “valor” por possuir mais “valores”. É dinheiro. Papel. Pseudo-status. Sem dúvidas, a porta aberta para o abismo da ilusão. Será que viveremos para sempre nesse buraco?