segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Confissões de uma Esquina


Era apenas um velho aos meus olhos de pedra. Solitário. Conduzido por pés desjuvenescidos. Alheio a outros dois jovens membros inferiores que seguiam almejando uma estranha colisão – cujo ser que os conduzia trazia olhar de frieza, assim como era fria a lâmina que tentava se aquecer sobre a pele da cintura. Está bem... Éramos só nós três naquela madrugada sempre embriagada pela maresia – o velho, o desconhecido e eu –, cada qual com sua solidão distorcida. E a colisão, inevitável, foi tripla. E os meus olhos empedrecidos arregalaram-se com o surrupio do vento abençoando o vil golpe. O cair do velho homem aos meus pés de pedra. E o correr do meliante com o arrecadado naquela breve ação – e com aquela velha alma outrora vivente em suas gélidas mãos...

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Banquete Num Planeta em Formação


O big bang acontecia. Era o peito a explodir. Era tanto nada em pedaços pela cozinha. A alma a cozer numa temperatura fria. Tudo fritava. Quem nunca se perdeu num cardápio incendiário de pólvoras e melancolias?


Era só a ferrugem do ócio a lhe corroer os nervos. Era só o fulgor do sol a afrontar-lhe da janela. Era só uma vontade de nada. Era só. Uma solidão que naquele dia doía. Uma vontade de ser sol para invadir janelas outras e derreter ferrugens alheias. Só vontade. Antiga. Empoeirada nas prateleiras de quem já nada era. E foi a lembrança do nada que ali era que a fez estremecer. Há dias em que é melhor nada ser. As horas caíram. Um laranja lhe acinzentou. Fitou o abrandar do sol. Fez-se vento. Imaginou-se mar. Virou areia...



* Fragmento que estará no novo livro de Sidney Nicéas, "Noite em Clara - um Romance (e uma Mulher) em Fragmentos.

sábado, 27 de junho de 2015

SIDNEY NICÉAS ESTÁ MORTO! (26/06/15)


"Porque não há fardo maior nessa vida do que carregar a si próprio". Essa frase é de um escritor enxerido chamado Sidney Nicéas (e estará enfeitando a fala de um personagem seu num livro futuro). Aliás, essa frase ERA dele. Eu matei Sidney Nicéas. Hoje. Dia do seu aniversário.

Matei. Há 40 anos eu o suportava. Um fardo. Não aguentei mais. Fiz o favor de retirá-lo abruptamente desse plano. O escritor está morto. Aliás, parte dele. A outra parte (eu) renasceu de suas próprias cinzas mortas. Um outro Sidney que se manifesta aos poucos. Talvez menos idiota, menos orgulhoso, menos teimoso, menos sonhador. Talvez mais maduro, mais consciente, mais confiante. Talvez.


Eu matei Sidney Nicéas. E confesso: não foi a primeira vez. De ciclo em ciclo eu renasço. E percebo que estar vivo aqui é estar cada vez mais morto. A cada aniversário perco vida e ganho morte - a morte que me faz realmente vivo. E é esse antagonismo estranho que me impele a matar o escritor e a renascer do seu cadáver que só se deteriora - em antagonismo com a sua alma que somente tenta crescer.


Está bem. Eu sou a alma de Sidney Nicéas. Eu o mato. Eu renasço. Eu morro a cada dia para essa vida estranha e vivo ainda mais para a eternidade – quanto mais eu morro, mais eu vivo. Não adianta me prender. Já sou prisioneiro desse corpo que só morre. Mas a cada aniversário eu fico mais perto da liberdade. E dessa alegria que me faz, no dia de hoje, palavras e celebração.


Eu matei Sidney Nicéas. E renasci...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

É O TERROR!!!



É o terror!!! É o terror!!! É o terror!!!

Os anos dois mil eram o futuro... E eis que dois mil e quinze chegou sob bombas – de artifício e também de verdade, com tiros matando franceses.

É o terror vinte e quatro horas na TV!!!

E a África continua sendo implodida por radicais que matam milhares a sangue frio. E o Taiti permanece afundando no caos de escombros de tragédias recentes.

É o terror sem espaço nas TVs!!!

E milhares de pessoas, incluindo diversas autoridades (isoladas dos reles mortais!), foram às ruas de Paris pedir por paz (e se for igual ao Brasil, aonde as intenções se esvaem com o passar dos meses, o bicho ainda vai pegar). Enquanto isso, nenhuma voz ecoando contra os males que se proliferam nas nações empobrecidas.

É o terror!!! É o terror!!! É o terror!!!


(e enquanto o terror continua detonando o mundo - desde que o homem é homem -, a gente vai levando essa vida...)