sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ponto de Maturação

Nascer é, literalmente, um parto. A dificuldade de vir ao mundo. O impacto da chegada, o esforço para a primeira respiração, os primeiros momentos de adaptação a uma nova realidade. Passei por tudo isso, como todos passamos, embora sem a consciência real desse nascimento.

Três anos são suficientes para a referida adaptação. Período esse em que o pequeno ser a tudo ama. Ele é pleno, livre, autêntico – ainda que dependente. E é com o passar dos anos que a sociedade “molda” o indivíduo. As noções do certo e do errado, o sim e o não, a dualidade que permeia a vida social humana. Passei por tudo isso, como todos passamos, embora só alguns despertem, com o tempo.

Eis o ponto de maturação. A maioria morre e sequer atinge esse ponto. Vive como mais um ingrediente da massa. Os que despertam, sim, passam a compreender melhor a realidade que cerca todos os viventes. E a “verdade” que surge para cada um só amplia a responsabilidade de viver e contribuir com o mundo à volta.

A grande questão é que, nesse trajeto, vivenciando o tal ponto de maturação ou não, todos perdemos algo. A vida é assim. E o pequeno ser que amava a tudo passa a amar cada vez menos coisas. O mundo vai se fechando à medida que as dores burilam. E o admirável mundo novo vai se tornando cada vez menor. Estou passando por isso, como muitos também estão, embora só alguns tenham consciência disso.

Hoje, por exemplo, posso contar nos dedos as coisas que amo. E talvez nem complete os dedos das minhas duas mãos. Mas não posso, não devo e não quero me reduzir nesse contexto. Nascemos para ser “mais”. E é somente buscando a nossa natureza divina que podemos conquistar a singularidade num mundo tão plural – e desigual.

Eis o ponto de maturação...