sábado, 26 de julho de 2008

O Mais Importante...


Os órgãos se reuniram numa noite em que o corpo dormia. O reboliço se deu por conta do coração, que, instantes atrás, afirmara categoricamente que era ele próprio o órgão mais importante do corpo humano. A inesperada ‘conferência’ atraiu um público absoluto.

O cérebro pediu a palavra e enfatizou: “Eu sou o órgão mais importante! Sem mim, o corpo não passa de um vegetal”. Tumulto no recinto. E enquanto cérebro e coração duelavam com palavras outras, o pâncreas interferiu: “De maneira nenhuma! Eu sou o órgão mais importante!”, afirmou. E o bulício perdurou.

No fundo do recinto, o ânus levantou a mão e pediu a palavra. Somente isso já fora suficiente para o ambiente silenciar, tamanha a ousadia e imprevisibilidade. Mansamente, o ânus falou: “Ainda que eu seja um mero orifício, afirmo: eu sou o mais importante do organismo...”. Gargalhadas invadiram o ambiente. Chacotas foram proferidas. Tentativas de humilhação foram direcionadas ao ousado orifício. Mantendo a calma, o ânus respondeu com uma atitude radical: enfiando o dedo na boca, prendeu a respiração e garantiu que, assim, nada mais passaria por ele.

Ignorado pela maioria dos órgãos, ele manteve-se prostrado enquanto a discussão continuava. Mas o tempo foi passando. Algumas horas depois, a ousadia do ânus passou a fazer efeito: o caos foi se instalando aos poucos naquele organismo. A pressão interna foi aumentando. A cada minuto que passava, os órgãos sentiam acentuar o incômodo. A essa altura, o coração saltitava num ritmo frenético. O cérebro estava à beira do desmaio. O intestino parecia que ia explodir. E o corpo mergulhava num profundo desequilíbrio.

No auge do caos, os órgãos voltaram atrás e decidiram aclamar o ânus como o órgão mais importante do corpo humano. Satisfeito, o orifício aliviou e comemorou aquela suada conquista, mostrando que, numa coletividade, todos têm a sua devida importância...
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E aí? O que (ou quem) é mais importante? Quem está no topo? O que em cima está ou que lá pelo fundo se encontra? Temos sido justos nesse contexto? Vale a reflexão...