terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A Falsa Democracia

“Posso não concordar com nenhuma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-las”. (Voltaire)




Não, você não sabe o que é democracia. Nem eu.

A falsa democracia é moda eterna. Rachel Sheherazade, jornalista do SBT, que o diga. Tendo espaço para dar opinião própria num telejornal, não poupa palavras para criticar o que acha errado, assim como para elogiar o que acredita ser louvável. Opiniões pessoais. Nada demais, não fosse a já citada distorcida forma de exercer-se numa sociedade que se diz democrática.

A última polêmica foi o comentário acerca do ladrão carioca que foi preso nu a um poste por populares, enquanto a polícia chegava para fazer a prisão. A imagem é absurda (foto). A ausência do Poder Público, também. E a opinião da jornalista foi incisiva, defendendo a ação dos cidadãos quando o tal Poder Público não se faz presente – o que chamou de legítima defesa coletiva (além de menosprezar o jovem da foto, o ladrão, chamando-o de ‘marginalzinho’). Por se expressar dessa forma, foi achincalhada. Certas opiniões devem ser medidas antes de serem exteriorizadas (ainda mais em se tratando de um telejornal), mas democracia é democracia. Não há meios termos. Uma opinião apenas é. Aceitá-la é-nos obrigação, ainda que não se concorde com ela (até porque, nesse caso, não vi ninguém se preocupar de verdade com a situação social do ladrão em questão!).

Pra mim, fazer justiça com as próprias mãos, como ficou subentendido na opinião da moça, é reprovável (ainda que concorde plenamente que o Governo tão pouco venha fazendo para minimizar os problemas da segurança pública no país), assim como sou contrário a atos de humilhação como esse a que o ladrão foi exposto (ainda que não concorde absolutamente com crime de roubo ou de qualquer espécie), mas que direito tenho de cercear o direito de opinião alheia quando eu mesmo expresso aqui o que penso?

A questão é recorrente. Na época das manifestações populares generalizadas (sim, na época, pois já passou, o gigante dormiu...), as redes sociais ficaram recheadas de intolerância. Os ‘mobilizados’ desciam a lenha em quem se expressava contra – quem defendia o direito de ir pra rua expressar sua indignação repreendia o direito do outro de discordar. Exemplo vívido de intolerância. E é essa mesma intolerância que simboliza essa falsa democracia e produz todos os preconceitos e desarmonias. Não aceitamos o diferente. Não aceitamos o que destoa do que pensamos. Vivemos como se fôssemos deuses na arte da crença. E, assim, só nos apequenamos diante dessas demonstrações cabais de antidemocracia.

O caso de Rachel Sheherazade vale para qualquer cidadão (Jair Bolsonaro, Marcos Feliciano, Danilo Gentili, você, eu...). Expressar-se é um direito. Os excessos, claro, aqueles que ferem as leis vigentes, são passíveis de enfrentamento legal. Mas não esqueçamos que a democracia é a grande lei num ‘estado democrático de direito’. Ou deveria ser.

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OBS.: não concorda comigo? Tudo bem...