domingo, 30 de março de 2008

Meu Minuto de Silêncio


A imagem mostra a covardia humana: a temporada de caça às focas, no Golfo de São Lourenço, no Canadá. Sob protestos em todo país, os caçadores valem-se da quase total indefensibilidade desses animais, agindo com violência em nome do dinheiro.
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Hoje sofrem as focas. Todos os dias sofrem os frangos, os bois, os porcos. Financiamos a selvageria humana, que insiste em manter-se mais animal que humano. Consumimos o sangue dos animais, o oxigênio do planeta, o verde das florestas, o ozônio da atmosfera... Tudo por mero interesse financeiro - sim, dinheiro que cobiçamos desenfreadamente, mas que não levamos quando partimos.
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Paro por aqui. Não vou escrever mais nada. Voltarei ao meu minuto de silêncio...

sábado, 29 de março de 2008

Nós Abortamos Ângelo


Apenas uma semana de vida. Sequer foi batizado. Chamá-lo-ei de Ângelo (embora alguém já tenha sugerido o nome de Renato). Abandonado ontem pela mãe na portaria de um prédio em Brasília, ainda que sem querer, expôs a nossa miséria social. Questões macro - como a educação e a igualdade sócio-econômica - e micro - como a responsabilidade de gerar um filho e assumir as conseqüências de um relacionamento sexual - vieram à tona com a mesma força da imagem na TV.

A frieza do abandono se compara a um aborto. Ângelo é, sim, fruto de um aborto social, cria da nossa incapacidade em lidar com os efeitos dos nossos próprios atos e, acima de tudo, de conviver coletivamente com justiça e amor. A mãe de Ângelo é, também, um reflexo do que somos.

Uma penca de gente vai surgindo na ânsia de adotar o menino. Claro. Famoso - possivelmente, no futuro, foco de uma matéria num telejornal qualquer (“lembram da criança abandonada há 18 anos em Brasília...”). Adoção? Sim! Lição de amor, contudo, é conseqüência dessa miséria. E a causa? Quando encontraremos a cura para nós mesmos?

Ângelo chora. Continua sentindo a ausência da mãe. Permanece esperando que tantos outros, como ele, sejam enfim amados. Quantos bebês ainda iremos abortar?
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* O texto acima foi baseado em fato verídico, acontecido na Capital Federal em 28 de março de 2008. Esse é o nosso mundo...

sexta-feira, 28 de março de 2008

O Doce Sabor da Gentileza


Tô fora! Não agüento mais esperar. Quando alguém atende, não me atende. Passa adiante. E não posso sequer reclamar. Isso quando é gente que surge do outro lado, pois às vezes me deparo com um ser digital, me tratando como se fosse alguém...
- Bom dia! Você ligou para o atendimento digital do cartão Master Line. Por favor, diga qual o motivo da sua ligação.
Silêncio na linha...

(vixe! Vou falar o que?)

Meu filho olhando pra mim sem entender e eu temendo ficar com cara de idiota. Saco! Vou ligar de novo e ver se tem outra opção que possa me colocar na linha com algum atendente de verdade.
- Bom dia! Você ligou para o atendimento digital do cartão Master Line. Por favor, diga qual o motivo da sua ligação.

(hummm...)

- Segunda via da fatura do cartão de crédito!

(eita! Falei alto, com cara de idiota e meu filho rindo de mim. Bonito isso... Hum!)

- Desculpe, mas não foi possível registrar o motivo. Por favor, diga novamente qual o motivo da sua ligação.

(lá vou eu de novo...)

- Fatura!
Dessa vez simplifiquei pra ver se aquela coisa “entendia”. A risada do meu filho agora foi maior. E a minha cara de babaca também.
- Ah! Entendi. Você quer informações sobre sua fatura. Aguarde um momento por favor.

(oxente! Essa danada vai voltar de novo, é???)

Tudo bem. Vou esperar. Espero. Espero. E espero... Musiquinha pra lá, musiquinha pra cá... E tome merchandising, blá-blá-blá... Minha Nossa Senhora! Três minutos e o palhaço com o fone na mão. O palhaço sou eu, claro. Mas, antes que desistisse, eis que surge uma vozinha de mulher com sotaque insuportável.
- Cartões Master Line, Atendimento ao Cliente, Odete, bom dia, com quem falo por favor?

(danou-se... Pra mim isso é um recorde!!!!)

- Meu nome é Pablo e eu...
- O senhor fala de qual cidade, por favor?
- Recife...
- Só um momento por gentileza...

(só mais um momento, é? Hum!)

E tome tempo de espera.
- Só mais um momento por gentileza...

(outro???)

Mais algum tempo de espera.
- O senhor pode me confirmar seu endereço, por favor?
- Não! Você não tem meus dados aí não, minha filha?
- É só para confirmação, senhor. É para a segurança da operação, por gentileza...

(é muita frescura...)

Após confirmar endereço, número da identidade, CPF, número do cartão...

(número do sapato e até a marca da minha cueca!!!)...

- Senhor, como o senhor é cliente Gold Card Vip, vou transferir o senhor para o setor responsável...
- Mas...
E tome musiquinha pra cima. Não pude sequer contestar a mulher e a danada da ligação já foi indo pra outro. E um cabra me atendeu...

(voz grossa e aquele sotaque intolerável)

- Cartões Master Line, Gold Card Vip, Faturamento, Jean Carlos, bom dia, com quem falo por favor?

(putz! Haja fôlego!!!)

- Rapaz, eu tenho que dizer tudo de novo?
- Perdão, senhor, não entendi.
- Meu filho, eu vou ter que repetir todo o meu histórico de novo ou você só quer saber o meu nome?

(pelo amor de Deus!!!!)

- Desculpe, senhor, mas é necessária identificação para segurança da operação.
- Olhe...

(se esse cara tivesse na minha frente...)

- Meu nome é Pablo, eu vou dizer o número do meu cartão e só! Você vai se virar mas eu não vou repetir tudo de novo!
- Senhor Pablo, é que eu preciso das informações para poder lhe atender...
- Tá bom! Tá bom!

(lá vou eu de novo, em nome do bom senso e da cortesia...)

Após todas as informações citadas novamente...
- Senhor Pablo, qual o motivo da sua ligação?
- Meu filho... Eu só quero saber como posso tirar a segunda via da fatura do meu cartão de crédito. Eu já tentei...
- O senhor pode acessar nosso site...
- Meu filho! Eu já tentei! Você acha que eu liguei por que?
- Só um momento, senhor, que vou passar para o setor responsável.
- Ei! Peraí...

(rapaz, e não é que o cabra não me deixou nem completar o que ia dizer?)

E tome musiquinha. Ouvindo o som da imbecilidade, me peguei em pensamentos nada nobres. E foi aí que constatei o paradoxo da minha ligação: pessoas educadas, gentis, mas treinadas para enrolar o consumidor – ou seria apenas incompetência mesmo? Acho que nesse planeta, esse é o doce sabor da gentileza...
Mão na testa e outra no fone, contive-me até nova atendente dar o ar da graça, com a velha frase feita e o terrível sotaque no meu pé do ouvido.
- Cartões Master Line, Gold Card Vip, Segurança ao Cliente, Marcela, bom dia, com quem falo por favor?

(meu Deus!!! Vamos lá... Paciência e educação...)

- Minha cara, você é a quarta atendente que eu falo... Tentei tirar a segunda via da fatura do meu cartão pela internet e não consegui. Eu só quero saber se você pode me ajudar a...
- Só um momento, senhor, que vou passar para o setor responsável...

(aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!! E tome musiquinha ainda por cima!!!)

Ah! É assim, é? Agora não tem acordo não! E não precisa nem colocar meus pensamentos nos parênteses, porque eu não agüento mais!!!!
- Cartões Master Line, Gold Card Vip, Atendimento Especial, Leandro, bom dia, com quem falo por favor?

(pode colocar o que eu disse...)

- Meu filho: vá pra putaquipariu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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OBS.: qualquer semelhança com a vida real não terá sido mera coincidência...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Águas Azuladas


Olho as águas azuladas da grande piscina. Embalado em suas suaves ondulações, meu filho mergulha empolgado. Nadando como um peixinho travesso, provoca uma sensação de orgulho no meu peito. Eu, aqui, bendito entre as mulheres (já que sou o único pai presente acompanhando a aula de natação). Próximas a mim, várias mulheres dividem o espaço fora da piscina e, dentre elas, apenas duas mães - todas as outras são funcionárias do lar, ali por uma obrigação profissional.

Observo as outras crianças, a maioria delas nitidamente carentes, ávidas pela atenção da professora. Onde estão seus pais? Questiono. E vou além: o que estamos fazendo com o nosso tempo? Que atenção estamos dando aos nossos filhos? Em que estamos contribuindo para que a futura geração seja melhor que a atual?

Tudo bem! Não vou entrar em detalhes, que são inúmeros - até porque quem sou para tal? -, mas trago à tona a questão da presença dos pais no dia-a-dia dos filhos e, principalmente, na importante contribuição que estes podem dar na formação do caráter da criança. Ouvi dizer que os melhores mestres são aqueles que nos fazem sofrer (pois nos proporcionam aprendizado). Mas, em se tratando de pais e filhos, essa máxima é falha, afinal, adulto são é aquele que teve amor, carinho e atenção familiar na infância.

Volto a olhar para as águas azuladas. Vendo as crianças soltas na piscina, alivio-me por um instante. Bom saber que estas estão seguras...

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Polêmica e mais polêmica. A sociedade humana é rica em promover controvérsias, justas ou infundadas. O foco nas crianças curtindo uma aula de natação remeteu-me ao caso de Joanna Maranhão - e de outras garotas que estão aparecendo agora. Pedofilia... Existe distorção humana mais perversa?

Prefiro a imagem da piscina. Mergulhemos, pois, nas águas azuis da consciência tranqüila...

terça-feira, 25 de março de 2008

O vazio e o Absoluto

O que não é, não sou.
O que é, sou.
Sou o todo, o tudo.
Só preciso me descobrir de verdade...



Ausência. Eis o vazio que parece infinito e que em mim teima em habitar. O que esse invisível representa? Por que ele persiste? O que significa?

E eu que pensava ser repleto. Tudo tenho. Tudo em mim habita. Contudo, vez por outra me flagro esvaziado, como se o que tenho e o que sou não me bastassem.

Enxergar o vazio é algo que soa estranho, mas, nesse momento, vejo-o. Percebo o seu reflexo no mundo exterior, nas pessoas que nada têm e que vivem, sorriem, apenas existem sem sequer se incomodar com o que pretensamente lhes faltam.

Volto ao vazio. Continuo a fitá-lo, só que dentro de mim. Olho-o de frente, ‘olhos nos olhos’, como se fôssemos íntimos. Enxergo... Somos apenas um, criador e criatura, cria minha representando o que ainda não sou.

Eu sei. O tempo há de passar e, com ele, crescerei. Aí, não sobrará espaço para o que não é. Serei pleno. Tão somente eu. Absoluto...
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A morte do ator australiano Heath Ledger ainda repercute. O vazio da perda, ofuscada pela repercussão mundial, foi reavivada numa exposição na Austrália, um concurso para retratistas. A pintura hiper-realista, feita por Vincent Fantauzzo e concluída na véspera da morte de Ledger, mostra o ator ao centro, ladeado de seus dois outros ‘eu’ cochichando ao seu ouvido.

Para o retratista, a sensação de vazio é uma constante. "Olhar por muito tempo para o quadro me emociona e ao mesmo tempo me dá calafrios, parece que ele ainda está ali diante de mim, posando", diz Fantauzzo. Talvez seja o invisível da morte, por nós ainda incompreendido.

A obra será doada à família do ator. E, ao que tudo indica, o tão repetido vazio se perpetuará. Quando nos tornaremos absolutos, enfim?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Santos? (parte II)

Estamos todos reduzidos.
Números.
Siglas.
Cifras.
Dígitos.

Despistamo-nos de nós mesmos.
Afundamo-nos em nós mesmos.
Esquecemos quem realmente somos.
(Homens, estatísticas ou santos?)

Do pó ao pó.
E se hoje estamos aos farelos,
Acho que já nem somos mais...



A semana 'santa' passou. Seus efeitos, porém, permanecem contundentes - e bem que poderiam ser consequências 'santas', mas não são. Sem contar as incontáveis brigas e confusões, 55 assassinatos foram registrados somente em Pernambuco. Recheando esses números, a imprudência nas estradas provocou 05 mortes, além de dezenas de prisões - 28 delas ligadas ao consumo exacerbado de álcool.
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Do pó ao pó... Enquanto nos dissolvemos numa vida nada 'santa', permanecemos crucificando o nosso verdadeiro 'Big Brother', flagelando-o através da nossa própria desarmonia. É... Parece que estamos mesmo todos reduzidos...

domingo, 23 de março de 2008

Santos?


Semana Santa? Páscoa? Qual o sentido desse 'mega' feriado religioso, num país cada vez menos humano? Por que festejar um momento católico se o mundo, hoje, é muito mais diversificado em termos de religião e crenças? Para que esse 'esforço' em lembrar de um figura ímpar - o Cristo -, numa sociedade embalada pelo álcool (e outras drogas) e pelas letras vulgares das pseudo-músicas festivas?

Alto lá! Antes que alguns se enfezem com o meu suposto puritanismo, esclareço: nada contra ninguém. Cada um escolhe o que é e o que quer ser. Não tenho nada a ver com isso. Refiro-me, apenas, à gigantesca hipocrisia social que insiste em permear nosso calendário. Encenações do martírio vivenciado por Jesus não combinam com os inúmeros assassínios nesse período pascal; missas católicas e seus consecutivos feriados não combinam com a enorme diversidade religiosa do país; procissões e eucaristias nada têm a ver com a desarmonia que reina em todos os festejos Brasil afora.

É isso, meus santos: hipocrisia. Eis a palavra que melhor nos define. Eis o termo que melhor revela o que nos compõe. E é inspirado nesse coquetel desarmônico que parto assente, ansioso para tocar no assunto novamente amanhã, afinal, passada a euforia ilusória de uma semana nada santa, teremos os números da desgraça que permeia esse tradicional feriado. Bebamos, então, a carne e o sangue de Jesus...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Homens Animais


Jorge é meu peixe. Inteligente. Prestativo. Realmente um bom amigo.
Débora é a minha prima. Devassa. Namoradeira que só ela. Uma cachorra.
Genival é um jumento. Segundo a ‘lenda’, grosso e avantajado (dizem, né?).
Seu Camelo é o pai de Genival. E, por ironia do destino, esse é realmente o seu nome, embora ele tenha uma corcunda daquelas – dizem, por maledicência, que tem ‘as bolas nas costas’...
Lacraia é um homossexual dos mais açucarados. Vive pra cima e pra baixo com um shortinho minúsculo, provocando os mais preconceituosos.
Dona Cláudia é uma mosca morta. Vizinha de Jorge, não se mexe nem pra beber água. Sua vida é somente a observar a vizinhança, com toda aquela gordura exuberante.

Pois bem.

Meu peixe começou a namorar a cachorra da minha prima. Ela, safada como sempre, passou a dar umas puladas de cerca com o jumento do Genival. Seu Camelo ficou danado da vida com a safadeza do filho, mas só perdeu as estribeiras quando ouviu Lacraia comentando com terceiros que Genival era de fato um jumento. E tudo sob as atentas vistas da obesa Cláudia, a mosca morta que logo tratou de espalhar a notícia.

Antes que você me taxe de burro ou de anta, tentando descobrir conexão entre as minhas aparentes pueris palavras, esclareço essa esculhambação zoológica. É que hoje acordei ao som da cantoria de pássaros. Sapos e grilos ainda dividiam a melodia da fantástica mãe natureza com os ouvidos meus. Na seqüência, lendo um jornal de data já superada, vi uma notícia de um homem que estuprara a própria irmã. E essa animosidade humana revelada na notícia, aliada à integração anterior com pássaros, sapos e grilos, remeteu-me à condição animalizada do ser humano.

A maior diferença entre o homem e o animal deveria ser a inteligência, contudo, a irracionalidade humana teima em encurtar essa distância, fazendo-nos, muitas vezes, preferir os animais em detrimento dos nossos próprios semelhantes. O quanto nos assemelhamos a eles! O quanto nos comparamos a eles! Nossa sociedade muitas vezes lembra um grupamento animal, uma manada de seres sobrevivendo ao habitat selvagem - só que se digladiando pelo poder e danificando o próprio ambiente vivente. Às vezes preferia ser um bicho do mato a ter que viver integrando essa aldeia animalizada.

Quando seremos apenas gente?

quarta-feira, 19 de março de 2008

Ilusão Descabida


A fama é a ilusão coletiva de uma vida 100% exuberante. O que dizer além disso? Salvo as celebridades pré-fabricadas que duram pouco, goza o famoso de uma grande exposição de mídia e de uma conta bancária avantajada. Desperta a cobiça dos pobres (de espírito) e comumente joga o afamado numa lama de vaidade e perdição. Daí, de lado a lado, se produz essa ilusão descabida.

A morte é o mistério menos ‘misterioso’ da humanidade. Morrer é o que há de mais comum e, ainda assim, o ser humano ‘morre’ de medo do findar. Descabelam-se os mais íntimos, choram os mais ou menos chegados, desperdiçam lágrimas os que fingem gostar do defunto. E eis que ele - o defunto - parte de volta pra casa, deixando uma sensação de que se extinguiu, corroborando para essa ilusão descabida.

Todos os dias morrem Josés, Antônios, Marias e Josefas. Todos os dias choram familiares de gente simples, desafortunada, desamparada. Essa é a realidade humana. Entretanto, vez por outra se vai um famoso, superestimado, ídolo da miopia geral. Vez por outra desperdiçam lágrimas os familiares de gente conhecida, choram os amigos de verdade e descabelam-se os que sequer conheciam o defunto. E eis que se produz, novamente, essa ilusão descabida.

Hoje, o mendigo Zé Biu bateu as botas, vítima de um atropelamento. Silêncio absoluto. Nenhuma linha escrita em lugar nenhum, sequer um caixão e um túmulo para enterrar o homem. Diferentemente de Zé Biu, causou comoção nacional (na Inglaterra) o falecimento do diretor de cinema Anthony Minghella - que dirigiu filmes como ‘O Paciente Inglês’ e ‘O Talentoso Ripley’ -, vítima de uma hemorragia cerebral. Repercussão mundial. Muitas cifras serão gastas num enterro.

Zé Biu e Minghella encontraram-se agora a pouco num espaço distante. O abismo absurdo que divida os dois em vida ali não existia. O mendigo e o cineasta famoso agora dividem as atenções do divino. Seus corpos, contudo, apodrecem sob a terra, nas mesmas condições. E enquanto a vida se refaz para os recém-desencarnados, a coletividade segue reproduzindo a tão repetida ilusão descabida.

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E aí? Cá entre nós: quem anda assistindo o BBB, hein???

terça-feira, 18 de março de 2008

As Maravilhas do Entendimento Humano

Animosidade.
Animais com cérebro pensante.
Medo.
Homens que confundem coragem com estupidez.
Sobrevivência.
Espécie devoradora do próprio sistema vigente.

O que houve com o entendimento humano?

Comunicação é a palavra de ordem, mas o mundo moderno emperra na ausência de palavras conciliadoras. As nações se isolam buscando conquistar o todo, contudo, tropeçam umas nas outras por falta de um diálogo construtivo. As empresas digladiam-se devorando mercados e acabam consolidando o desequilíbrio econômico coletivo. As famílias aceleram o passo para a conquista definitiva da estabilidade econômica, mas desestabilizam-se num caminho seco, distanciado, divisor. E os indivíduos, desconexos, perdem-se na ausência de palavras que unam, na presença de uma mudez agressiva, no semear de um vocabulário feroz.

O que houve com o entendimento humano?



Casos dessa ausência de entendimento entre os seres humanos não faltam. Numa esquina da rua onde moro, por exemplo, existe uma pichação com a seguinte frase: “Coloque o seu lixo na sua calçada!”. Pérola das prósperas relações entre vizinhos...

Indo mais a fundo, li hoje na internet sobre uma tentativa de homicídio em Guaratinguetá (SP), após um ‘bate-papo’ via MSN - os dois rapazes envolvidos trocaram ‘acusações virtuais’ e, dias depois, um deles, acompanhado do cunhado, deu nove facadas na vítima. Ou seja, a internet, símbolo atual da ‘aldeia global’, virou palco dessa distorção humana - embora isso não surpreenda, já que o ambiente na web é apenas uma projeção da nossa realidade social.

Eis as maravilhas do entendimento humano. O que teremos à frente, então? Entraremos por necessidade na era da inteligência artificial, com robôs fazendo papel de seres humanos - proporcionando assim algum entendimento? Ou acabaremos nos devorando de tal forma que, inconseqüentes, findaremos apenas sendo alguns num vazio infernal?

O engraçado nisso tudo é perceber que, quanto mais individualistas e enervados nos tornamos, mais acentuamos a vivência coletiva, construindo prédios cada vez mais populosos e enchendo o planeta de novos seres, sem qualquer planejamento global. Eis a antítese reinante...