quinta-feira, 8 de maio de 2008

A Mulher e o Diabo

“Mulher é coisa do diabo!”, dizia Seu Zé, motorista de táxi, enquanto me conduzia ao hotel na manhã de hoje. “Até a costela de Adão a danada roubou. A minha, então, rouba a minha paz há mais de 20 anos”, prosseguiu. E findou com uma pérola: “Casar com a mulher é pedir ao demônio um taquinho do inferno cá na Terra!”.

Seu Zé estava arretado. Mesmo sem saber suas ‘razões’, fiquei somente a escutar os impropérios que da sua boca saíam - e a rir deles. Na verdade, ele estava parecendo uma mulher na fase da TPM: nervoso, irritado, queixoso, inquieto, chato, impaciente...
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Comparar a mulher com o diabo pareceu exagero. Ops! Será mesmo?


Como é gostoso brincar com as diferenças! Nesse caso específico, traçar um paralelo entre a mulher - ser biológico complexo e extraordinário - com o diabo - uma divertida alegoria humana sobre o mal - nada mais é que um exercício de humor. Senão vejamos: par de chifres, rabão, olhos penetrantes, língua de fogo, persuasão infalível...

Claro, mulheres, que estou brincando. Do denominado diabo, a mulher não tem nada - exceto a tendência ao fuxico, a inclinação ao controle das vidas que a cercam, os rompantes de fúria durante a menstruação, a indisfarçável tendência ao mau humor...

Calma, mulheres! Eu continuo brincando! A mulher e o diabo são bem diferentes, sim. Sem eles, o mundo seria totalmente diferente - não haveria brigas, nem divórcios, nem pagamento de pensão, nem feminismo, nem AIDS, nem TPM...

Está bem! Está bem! Vou parar essa brincadeira por aqui, ok? Contudo, antes que algumas das minhas estimadas leitoras me abandonem ao léu (inclusive a minha amada esposa), findarei confessando uma coisa que ninguém pode negar: a mulher e o diabo são fundamentais - o diabo, para entreter os medrosos; e a mulher, para iluminar os homens.

Eita ‘bicho’ bom danado!!!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Imbróglio

Como.
Como?
Como também!
Como?
Como o que?
Como o que o que?
Não entendeu?... Nem eu!



Alguém disse “a”, outro entendeu “b” e a confusão ‘tava’ feita. Num mundo onde os homens ‘engolem’ as letras das palavras, falta entendimento e sobram desavenças.

‘Virgem Maria’ virou ‘vige’, que acabou ficando ‘vixe’. ‘Oh! Gente!’ virou ‘oxente’. ‘Você’ virou ‘cê’. ‘Por favor’ virou lenda. ‘Com licença’ só para quem porta documento especial. ‘Obrigado’ só para quem faz algo forçado. ‘Bom dia’ quando se ganha algo no período matinal. E o ‘diálogo’, presente divino para o entendimento humano, virou palavrão.

Dia desses quase apanho na rua. Ao parar num semáforo avermelhado, um rapaz se aproximou do carro falando algo e gesticulando brandamente. Vidros fechados, não entendi o que ele dizia e, instintivamente, balancei o dedo na negativa, pois ‘tava’ sem dinheiro. ‘Pra’ que? O cara ficou revoltado... Na verdade, o pedestre queria apenas me avisar que a porta do meu carro não estava bem fechada. Contudo, sua boa vontade logo se transformou numa raiva atroz. ‘Vixe’! Fiquei amiudado...

Bom senso e entendimento também viraram palavrão. Ainda bem que aqui, agora, estamos nos entendendo. ‘Tô’ engolindo palavras aqui e acolá, mas ao menos continuamos em harmonia - se bem que não estamos frente a frente, senão, quem sabe o que poderia rolar, não é mesmo?

O que? ‘Tá’ achando esse papo imbecil? ‘Ó’: é melhor eu ir parando por aqui. Do jeito que as coisas estão, o tempo pode fechar - e não é do clima que eu ‘tô’ falando não...

domingo, 4 de maio de 2008

O Maior Barato...


O velho ‘boró’ continua dando o que fumar... ops!... o que falar.

O assunto veio à tona após as autoridades vetarem a Marcha da Maconha - passeata que há 6 anos defende a legalização da erva no Brasil - em nove estados do país. Novamente, deixa-se de lado o bom senso. Se o Brasil não abarca condições de legalizar a droga hoje, tudo bem. Se não quer, paciência. Agora, proibir que pessoas exprimam suas opiniões de forma pública, sinceramente!

Essa hipocrisia é o maior barato! Enquanto se proíbe manifestações pró-maconha, lucra-se com a venda de cigarros, bebidas e outras drogas consideradas lícitas. Pior que isso, mancha-se o maior trunfo da democracia: a liberdade de expressão.

O comércio ilegal da maconha (e de outras drogas consideradas ilícitas) é, sem dúvida, um dos maiores propulsores da violência e do crime organizado. Contudo, é legal consumir as outras drogas consideradas lícitas. É... Legal...

Mas, fazer o que? Enquanto isso eu, que não bebo, não fumo, nem cheiro, fico somente observando essa fumaceira. É o maior barato...

sábado, 3 de maio de 2008

No Fundo...


Respiro fundo... Ahhh... Que vontade de transar...

Pois é. O mundo respira sexo. Vire a cabeça e você vai ver alguma mulher pelada ou seminua. Ligue a televisão e não faltarão peitos e bundas. Ligue o rádio e não faltarão letras apelativas, entoadas por acordes estapafúrdios. E é nesse embalo que o mundo gira...

Ontem, em Kinokawa, um funcionário público japonês foi rebaixado de cargo quando descobriram, após seu computador ser infectado por um vírus, que ele, em 9 meses, acessou sites pornográficos mais de 780 mil vezes - isso dá uma média de 86 mil acessos por mês! Já do outro lado do mundo, aqui no Recife, um homem de 25 anos foi preso após estuprar por duas vezes a própria mãe - o rapaz quase foi linchado pela população antes da polícia chegar.

Ahhh... Que tesão... E enquanto o mundo explode em gozos cada vez mais ousados, continuemos a respirar. No fundo, no fundo, acho que a humanidade quer aí mesmo ficar. E olhe que está conseguindo...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Bananalização


Antigamente se dizia: “A preço de banana”. Isso para expressar a desvalorização de algo, ou apontar a sua mínima importância. Aprendemos a dar ‘banana’ para o outro ao mostrar o antebraço com o punho cerrado, num gesto de desprezo. Nos acostumamos a chamar o outro de ‘banana’, taxando-o de frouxo ou incapaz. Também, vimos essa riquíssima fruta ser menosprezada, ainda que continue bastante indicada para uma saudável alimentação.

Hoje, a banana permanece em alta. Seja pelo seu caráter nutricional, seja pela sua pejorativa associação ao banal. Enquanto o comércio de banana representa uma boa fatia do mercado mundial (e, especificamente no Brasil, seja a fruta mais exportada), a ‘bananalização’ abarrota todas as esquinas do planeta.

No nosso país, há muito considerado uma espécie de pátria da banana (embora ela seja oriunda da Malásia), exemplos não faltam. Na Paraíba, um pernambucano promoveu o próprio seqüestro para extorquir dinheiro do pai - o amor filial, o respeito e a honestidade ruindo como ‘banana podre’; no Recife, um protesto na praia de Boa Viagem pediu o fim da violência - e o significado de “paz” e “violência” vai compondo esse ‘cacho’ de coisas importantes cujos valores permanecem sendo distorcidos; em São Paulo, uma pesquisa apontou o aumento do número de abortos no país - mulheres que esquecem e ‘descascam’ os próprios ‘frutos’.

Pois é. A vida vai se desvalorizando, a banana não. Por isso mesmo, acho que vou mudar de ramo. Investir nessa inigualável fruta rende que é uma beleza! Pelo visto, ela é o fruto da prosperidade - nem que seja paradoxalmente assim definida. E nesses tempos de ‘globalização’, ganhar com o banal é a tendência. O mundo, assim, vai ficando cada vez mais ‘bananalizado’. ‘Palmas’ para nós...

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A Ironia do Quase Gol


Eis a marcante expressão, utilizada pelos locutores de jogos de futebol, que caracteriza a emoção de um lance quase definido: “Na trave!!!”... O pior é que essa emoção, quando a jogada não é concluída com êxito na seqüência, resulta sempre na frustração do gol perdido.

O futebol - quem acompanha sabe - é um jogo repleto de ironias. E dele resultam outras expressões interessantes, que em muito se aplicam à realidade: “Quem não faz, leva”, “O futebol é uma caixinha de surpresas”, “Em time que se ganha não se mexe”, dentre tantas outras.

Ironias do futebol, ironias da vida. Que o diga Ronaldo, o fenômeno. Doido para fazer ‘três gols’ numa madrugada de agito, só conseguiu ‘bater na trave’. E a emoção resultou em frustração. A ‘caixinha de surpresas’ da vida foi infalível e ele, que não fez, levou - ‘mexeu no time’ e não ‘ganhou’.

Ronaldo queria fazer. Os travestis queriam levar. Engana-se, todavia, quem pensa que dessa ‘jogada’ saiu ‘gol’. O careca invadiu a ‘área’ e encontrou ‘duas bolas’. Sabe-se lá o que realmente aconteceu entre as ‘quatro linhas’, ou melhor, entre as quatro paredes do motel. O fenômeno e os três acompanhantes disputando uma ‘jogada’ inusitada. A 'marcação cerrada' resultou em confusão, que se desdobrou na delegacia.
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Estão dizendo que tudo isso foi o único ‘gol contra’ do fenômeno. Outros, afirmam que essa foi a ‘jogada’ mais ridícula do craque brasileiro. Eu, contudo, acho que o rechonchudo jogador sofreu a ironia do quase gol. E a ‘bola na trave’, que continua ecoando até agora, vai ficar definitivamente registrada nos ‘anais’ da história. Literalmente.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Segredos


Por quanto tempo um segredo pode ser guardado?

Os sigilos que adornam a vida humana são marcados por singulares demonstrações de medo: da culpa, de se expor, das conseqüências, de assumir responsabilidades. E nesse perigoso jogo estratégico, muitas vidas acabam sendo afetadas, com intensidade variável a depender da gravidade do mistério em questão.

Segredos como o do austríaco Josef Fritzl, engenheiro elétrico de 73 anos de idade, que por 24 anos escondeu sua filha num porão, forçando relações sexuais que resultaram no nascimento de 7 filhos - 1 morto após o parto, cujo cadáver foi ocultado pelo homem, que ateou fogo no corpo do bebê. O hoje idoso assumiu os crimes e, através da revelação dos seus atos, mostrou ao mundo a natureza instintiva que compõe o ser humano.

24 anos de confinamento, violência, degradação. Mais de duas décadas escondida do mundo, trapaceada pelo desejo doentio do pai. Elisabeth Fritzl, hoje com 42 anos, está confusa. O que se passa em sua cabeça? O que seus olhos - e sua mente - estão absorvendo do mundo que agora a abriga? O que restou da jovem de 18 anos, que vivia livre até ser aprisionada pelo próprio pai?

Segredos... Melhor que se deixar punir pelas conseqüências de um ato considerado errôneo, é assumir as suas conseqüências. O sofrimento gerado em tais situações muitas vezes ganha contornos dramáticos, com efeitos que acabam ecoando pela eternidade. Que o digam Josef, Elisabeth e as suas seis crias - pai, filha, mãe, avô, filhos, netos...

Por quanto tempo um segredo pode ser guardado?

domingo, 27 de abril de 2008

Firmamento de Nós


Do alto o que se vê é um coração, cheio de células e artérias. Minúsculos pontos, nós, no solo e no firmamento. Enquanto a nave voa, o meu pensamento flutua num imenso invisível. Torno-me uma nuvem, repleto, leve, vagante, pairando sobre esse músculo pensante, o planeta Terra, plantado no seio divino.

Assim como eu, flutuam no espaço aéreo outras nuvens, talvez mais espessas, talvez mais leves, talvez alheias a esse coração pulsante que nos abriga. Somos bilhões de pontos nesse pulsar, uma massa vagante, como densas nuvens humanizadas, contudo, dispersas da almejada unicidade.

Entrelaçados e segregados, preenchemos um firmamento de nós, coletivos, emaranhado errante, viventes, morrentes, renascentes. E persistimos a vagar vida a fora. Mas o vôo continua. A Terra pulsa. E o pensamento permanece, a vagar, na busca da ainda impenetrável utopia da felicidade humana...
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Basta um miúdo olhar no cotidiano para constatar o firmamento de nós que a vida é. A nuvem densa também contagia o serviço público de saúde, que anda um emaranhado só.

Ontem, a PM foi acionada para conter um tumulto no Hospital dos Servidores, no Recife. Uma médica perdeu as estribeiras após inúmeras reclamações de pacientes e acompanhantes, queixosos quanto à demora no atendimento e falta de médicos - viventes e morrentes sufocados pela falta de senso coletivo.

A população continua carente de estrutura. E de humanidade, justiça, tratamento igualitário. O básico que poucos esbanjam falta para a maioria. Por isso, aumenta cada vez mais a impenetrabilidade da utopia da felicidade humana.

E o meu pensamento permanece a vagar...

sábado, 26 de abril de 2008

Liquefativo

Estou derretendo. O calor me incomoda. Inflige-me. E eu infrinjo todas as noções sãs em nome desse crime, o tão na moda efeito estufa, bola da vez da insanidade humana.

Ah! A humanidade... Cria seus próprios problemas, inventa suas próprias catástrofes, batiza suas incompetências, lança discursos desgastantes e ainda culpa a natureza. E eu? Quem anda pensando em mim? Quem está se afetando com a minha liquefação? Quem, afora uns poucos, anda se importando com as conseqüências disso tudo?

Eu sou Tasman. O calor me incomoda. Estou derretendo...



A geleira de Tasman, na Nova Zelândia, que está derretendo em proporções inimagináveis. Os cientistas estão preocupados. As conseqüências não serão nada animadoras. E a humanidade persiste, mas... Até quando?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Boa Viagem


Boa Viagem... Dependendo do ponto de vista. A caminho do aeroporto, cruzei o movimentado bairro recifense, desbravando suas pavimentadas entranhas na ânsia de logo pegar o avião. E segui.

No percurso, inúmeras esquinas visualizei. E mais que qualquer paisagem urbana, percebi o inquietante fruto social humano: a prostituição. Disfarçada de mulheres e travestis, exibia-se com uma agressiva sede de sexo. Ainda que pensativo, segui.

Alheio a qualquer possível julgamento, pus-me a pensar no tipo de vida que se leva nas esquinas da vida. Pensei nos seres humanos que vendem seus corpos para sobreviver (e nos que os compram). Pensei naqueles que, ocultos, lucram com esse tipo de exploração. Pensei nos familiares (nos que estão vivos, que admitem ou desconhecem a realidade dos seus). Pensei, também, nos frutos dessas relações físico-financeiras (crianças, fetos abortados ou órfãos de pai). E continuei seguindo.

Agora, em pleno avião, desbravando os ares da linda ‘Veneza Brasileira’, persisto nesses registros que a minha mente estimula. E enquanto sigo, penso na Boa Viagem - na minha, no bairro e na dos frutos viventes nas suas esquinas. Até quando estaremos nessa encruzilhada?

Continuo pensando. E sigo...