segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Perseguição

A perseguição havia começado. Pelo largo corredor do movimentado shopping, a mulher seguia com o coração ávido. Embora entre tantas pessoas estivesse, sentia-se extremamente vulnerável naquele ambiente que sugeria conturbação.

Os passos eram comedidos, sincronizados com o temor interno. Seu olhar buscava refúgio, mas só encontrava gente estressada, crianças a choramingar, vendedores em pleno processo de antropofagia comercial. Assim, desbravar o caos mercadológico, digno de um grande centro de compras, era só o que lhe restava.

As batidas do coração aceleraram. A mulher tentou se esquivar da fatalidade, evitando olhar de frente para o perigo. E persistiu numa andança frágil, passível de erros, fadada ao insucesso. Mergulhada num esforço descomunal para não ser alcançada, decidiu mudar de rumo, acessando novo corredor de lojas. Ainda que tenha encontrado um ambiente mais ameno, não conseguiu livrar-se da sensação de acuamento. Mesmo assim, procurou seguir em frente, demonstrando rara obstinação.

Poucos passos, contudo, foram suficientes para que ela fosse alcançada. Todo esforço cedeu ante um mudo convite exposto numa vitrine: atraída pela cobiça – e pela luxuosa peça de roupa lá exibida –, entregou-se à ânsia de consumo que a perseguia desde a entrada no malfadado shopping. “Maldita hora em que decidi entrar aqui!”, pensou. Mas não deixou de agir: as compras duraram quase duas horas e o cartão de crédito ganhou novas cifras para débito na fatura mensal.

Recém-saída da high society, a mulher ainda haveria de sofrer outras dolorosas perseguições consumistas nesse processo indesejado de imergência social. Quem a salvaria, então?

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