Fotomontagem: o Papa e o livro que a imprensa carioca não deu espaço por conta da JMJ
A Jornada
Mundial da Juventude trouxe o Papa Francisco ao Brasil. Afora a importância da
figura do pontífice e do encontro que reúne católicos de vários lugares do
mundo, poucas vezes vi um movimento tão bem orquestrado para promover uma
religião no Brasil – sim, antigamente o catolicismo era quase padrão, hoje se
fala em pluralismo religioso, Estado Laico, coisa e tal. E tirando a simpatia e
a simplicidade do Papa, a visita de Francisco durante a JMJ é, também, uma
grande jogada de marketing da igreja Católica no país.
Está bem. A referida
Jornada acontece pelo mundo quase que anualmente reunindo jovens de diversas
nacionalidades. Nesse evento, o Papa costuma participar. Está bem, toda
religião busca meios para se promover, para arrebanhar mais fieis etc (assim
como esse evento também o é, apesar do trabalho que é nele desenvolvido). Mas
isso soa estranho, já que as religiões deveriam ajudar seus adeptos a encontrar
Deus em si próprios – e não se preocupar com a religião como produto. Essa
distorção de visão, que acomete praticamente todas as instituições religiosas
no mundo, pra mim é motivo de uma certa reticência, apesar de todo respeito que
tenho por todas as religiões existentes.
Esse “tino comercial”
religioso preocupa, sim. Ano passado estive no Rio de Janeiro para divulgar o
meu livro “A Grande Ilusão”. Na imprensa local, o que mais ouvi foram ressalvas
em relação à possibilidade de divulgação da obra na mídia, já que – palavras de
vários jornalistas que conversei de empresas de comunicação diversas – “a
igreja está investindo pesado na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, e o teu
livro dificilmente terá espaço, por conta do tema” – o livro narra o drama
humano de um padre atormentado pelos próprios desejos sexuais. Achei engraçado,
até porque o livro em nada ofende a igreja. Era tanto dinheiro em questão que
determinados assuntos envolvendo a igreja Católica só teriam guarida se fossem
de repercussão internacional.
O tempo
passou. Eis que um novo Papa foi escolhido. Eis que a jornada acontece no Rio
de Janeiro. Eis que a mídia se debruçou sobre o Papa – “justificando” as
ressalvas feitas por jornalistas cariocas a mim no ano passado – ainda que seja
ele uma figura de alcance mundial. A cobertura da visita é normal no
jornalismo, os excessos, contudo, são condenáveis. Anteontem, num telejornal, se
falou em “milagre” diante da atitude do Papa Francisco em pegar um bebê no
braço, no meio da multidão, e beijá-lo (milagre???). Falam até da comida que
ele come... Exageros numa época em que o povo persiste em protestar por dias
melhores – e que o foco, assim, é desviado.
O lado bom disso
tudo é que figuras ímpares como Jesus Cristo e Maria e conceitos mais divinos
como a paz, a humildade e o amor também entram em pauta – ainda que de forma bem menos
enaltecida que a figura humana do pontífice e toda a movimentação da igreja
Católica, nesse evento mundial que acontece na capital carioca. Francisco
esbanjou simpatia. Causou comoção. Atraiu olhares humanos que buscam em outro
humano um santo salvador.
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