O prédio onde moro fica próximo a
uma igreja evangélica. E ainda que a área do condomínio seja ampla, é comum,
vez por outra, escutar em alto volume pregações efusivas, cantos elevados (ao
menos no volume das vozes que os entoam!) e até o que me parece bate-papos
sobre religião. Tudo num esforço para que a vizinhança escute, como se isso
significasse “pregar a palavra de Deus”.
Engana-se, contudo, quem pensa que
essa exteriorização da fé é exclusividade dos intitulados evangélicos. A
recente festa no Morro da Conceição, aqui mesmo no Recife, marcando os festejos
pelo dia de Nossa Senhora da Conceição (08 de dezembro), mostra que a igreja
católica vem adotando postura idêntica. Novamente do meu apartamento, que fica próximo
à rota para o referido morro, foi quase insuportável tolerar as orações e gritos
de louvor entoados às alturas do que me pareceu um trio elétrico, reforçado
pelo grito da multidão. Parecia que Nossa Senhora estava tão longe que não
conseguiria ouvir. Foi de passagem, mas incomodou os ouvidos dos outros filhos
de Deus, como eu.
Acredito piamente que nós somos o
ponto de partida para a questão evolutiva. Fé é entrega. Confiança absoluta.
Algo totalmente íntimo e interior e que deveria ser exercido e exercitado numa
solidão ativa. Parece-me sem sentido um esforço tão grande para exteriorizar a
própria crença. Questiono-me, com todo o respeito que tenho a todos os credos
religiosos, se tal exteriorização é tão somente uma distorção do que é ter fé
ou se tudo se resume a ações esmeradas de merchandising para propagar os
próprios conceitos religiosos.
“Pregar a palavra de Deus” não é
decorar trechos da Bíblia (ou de qualquer outro livro religioso) e sair
empurrando ouvido abaixo de outras pessoas, seja abordando-as (na rua ou em
suas casas), seja ouvindo música religiosa em alto volume em veículos públicos,
seja gritando em cultos e/ou eventos religiosos. Não. A ‘pregação’ deve ser pessoal
e mirada no exemplo. Exemplo para si próprio. Cuidar de ser um ser melhor. Agir
mais e falar menos. Buscar Deus dentro de si (e não numa exteriorização que só
incomoda quem pensa diferente), sem se preocupar com rótulos, muito menos
religiosos.
Respeitar o outro e todas as
diferenças que existem entre as pessoas é fundamental para a boa convivência
humana. Vale muito a pena refletir sobre isso. E seria interessante que tal
reflexão começasse já na minha rua, afinal, Deus não é surdo – e eu também
não...
- - -
OBS.: pesquisando na web, acabei
descobrindo que existe um site e uma página no Facebook que aborda essa questão
(Deus não é surdo. Ore baixo – o detalhe é que eu já havia intitulado esse post,
mesmo sem saber da existência do site). Quem quiser conferir: http://www.deusnaoesurdo.com.br.
A resposta é simples meu caro Watson: Quem disse que querem falar com Deus quando oram? querem que outras pessoas as vejam e escutem orar, chamar a atenção e convencê-los a engrossar o coro! princípio da publicidade: "quem orar mais alto leva o fiel".
ResponderExcluirSó não dá pra generalizar, Brunão, pois há os que acreditam nessa exteriorização porque não compreendem a real essência da fé, nem o seu caráter científico - ainda que os que comandam as instituições, sim, utilizem desses recursos. Simples e complicado... ;) Cheiro, velho!
ResponderExcluirSó não dá pra generalizar, Brunão, pois há os que acreditam nessa exteriorização porque não compreendem a real essência da fé, nem o seu caráter científico - ainda que os que comandam as instituições, sim, utilizem desses recursos. Simples e complicado... ;) Cheiro, velho!
ResponderExcluirCada vez mais sou fã desse cara.
ResponderExcluirParabéns pelos textos e pelos livros.
Grande abraço
Grato sempre, amigo Bruno Paranhos... ;) Abraço!
ExcluirConsidero que cada vez mais as pessoas perdem o senso da boa educação em nome de qualquer coisa, pode ser de fé, de achar que tem razão em algo e gritar por isso e por ai vai. infelizmente a barulhada não ocorre só em igrtejas evangélcas mas em tantas outras instituições religiosas ou mesmo na casa daquele vizinho abusado que toca pela milésima vez uma musica de dor de cotovelo no ultimo volume por um desamor, oou adolescentes que passam gritando em nossa porta as 2 da manhã de domingo sem se importar se vamos trabalhar cedo na segunda.A questão é muito mais educação e bom senso que fé propriamente dita, afinal o que Deus ouve é nosso coração e este não se manifesta por palavras e sim por atos.
ResponderExcluirComo sempre, um comentário mais do que pertinente, cara Rosângela. É isso aí... Cheiro grande!
ResponderExcluirA maior oração é feita, sem dúvida, no silêncio do nosso coração. Lembro-me de um trecho bíblico em que um homem que se achava justo fazia a oração em voz alta, para se justificar perante os demais e lá atrás, num cantinho, estava uma viúva que se sentia indigna de estar ali e que no silêncio orou a Deus e foi atendida.E é exatamente o que vemos hoje em dia,a importância dada a exteriorização da fé como se para comprovar a sua existência..e paralelamente..uma baita falta de bom senso..também acho que as pessoas que exageram o fazem por causa do próprio barulho interior..um turbilhão dentro de cada uma que as impede de se ouvirem, de ouvirem a sua voz interior, daí, acham que para serem escutadas por Deus devem gritar.É claro..cada caso é um caso..o que não podemos esquecer é que o próprio Jesus não gritava em suas pregações e mesmo sem recursos tecnológicos, todos o ouviam porque silenciavam.
ResponderExcluirMuito bem pontuado, cara Fabíola... ;) Cheiro grande!
ResponderExcluirSidney, você está certo quanto as igrejas protestantes. Mas veja bem, quando você fala da procissão que aconteceu dias atrás, é preciso lembrar que ela só acontece uma vez ao ano. Quando se tem uma multidão de gente é quase impossível o silêncio... Entendo que um trio elétrico talvez seja muito, mas que você saiba compreender a unicidade do momento. A Igreja Católica não costuma criar a poluição sonora, portanto é algo bem isolado. Abraço.
ResponderExcluirRealmente, Cainã, é algo isolado, todavia, a cada ano fica mais parecido com um grande carnaval, até a queima de fogos tem aumentado ano a ano. No contexto do barulho, é pontual. No contexto da exteriorização da fé, acho que o exemplo cai bem. Mas tens razão quanto à poluição sonora contumaz... Abraço!
ResponderExcluirVeja, acho que concordamos que uma procissão é impossível de ser realizada dentro de um templo rssrsrsrsrs , portanto é inevitável a exteriorização. Mas compreendo seu ponto de vista em relação a atitudes individuais. Até mais.
Excluirrsrsrsrs Claro... Mas note que me refiro a exteriorização da fé, algo tão íntimo e pessoal, que acaba contrastando com essas demonstrações exarcebadas... ;) Abraço!
Excluirrsrsrsrs Claro... Mas note que me refiro a exteriorização da fé, algo tão íntimo e pessoal, que acaba contrastando com essas demonstrações exarcebadas... ;) Abraço!
ExcluirConcordo em parte com o escritor. Vejamos: não podemos jamais comparar a festa do morro por exemplo, um dia por ano, dia de festa, dia das pessoas externarem suas alegrias e suas devoções. Muito diferente dos cultos evangélicos que são provocadores ao ouvido das pessoas pela insistência em fazer querer que os outros ouçam e percebam que ali se encontra um evangélico.
ResponderExcluirBom, note que o objetivo do post foi questionar essa tendência a exteriorização da fé. Usei o exemplo da festa do morro porque foi algo que presenciei, mas existem várias missas carismáticas católicas que se assemelham a cultos evangélicos e fazem barulho, como terreiros de Umbanda com seus batuques e por aí vai. A questão, pra mim, é essa ânsia de se chamar atenção, quando a verdadeira religiosidade está no contato íntimo que se busca com Deus. De qualquer forma, existem outros fatores nesse bojo, especialmente culturais, mas acho que não vêm ao caso... Grato pela participação! ;)
ResponderExcluirDeixa ver se eu me lembro de tudo. Além dos ruídos das igrejas, temos ainda o caminhão do gás, que passa as seis e meia da manhã, a carrocinha vendendo CDs piratas, o som do porta mala do carro dos imbecis querendo impor o lixo da música nos nossos ouvidos, as orquestras que tocam nos casamentos, formaturas e outros eventos, que de tão alto o som você não consegue conversar com quem está do seu lado. Eu particularmente sou vítima de uma escola que construiu sua quadra de esportes a poucos metros da minha varanda. Os gritos dos alunos as fanfaras em dias de competição, não me permite ler, dormir, assistir televisão, atender telefone etc. Agora, por decisão judicial, me parece que vai melhorar. Espero. Resumindo tudo isso, falta de educação e ação dos poderes públicos que não querem entrar em conflito, principalmente com os evangélicos, uma fonte inesgotável de votos.
ResponderExcluirPense num balaio cheio de broncas, caro Paulo!!! Complicado...
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