sexta-feira, 14 de março de 2008

Como é Bom te Escrever...

Meus versos não deixo soltos;
Amarro-os em mim
Para guardar, assim,
O que extraio de ti,
Frases tuas, perdidas,
Que deixas vagando por aí.

Roubo-os por que os vejo
E escrevo porque desejo
Todas as formas de te traduzir...



Essa é a minha homenagem a todos aqueles que costumam dialogar com o papel - e àqueles que apreciam e digerem toda criação poética. Hoje, 14 de março, é o dia da poesia. Que continuemos a produzir! Que não nos faltem palavras para expressar o invisível! Que se reproduzam os apreciadores de tal ofício! Que, enfim, possamos, ao invés de perder tempo com as mesquinharias do dia-a-dia, nos conectar através das palavras. Que assim seja...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Antropófagos Urbanos


Eis a tribo mais perigosa de todos os tempos: a atual sociedade humana. Coletividade mais desunida e desarmônica nunca houve, ouso dizer (acho que nem em tempos de guerra mundial). Grupamento cínico, desordenado, egocêntrico. Contramão do sentido do que é ser coletivo - multidão de indivíduos desagregados do todo.

O reflexo dessa antropofagia urbana é visível na atitude de cada ser humano. O caos reveste tudo: o trânsito, os condomínios, o separatismo - cultural, racial, social. A aldeia global é fracionada. A globalização é uma farsa, exposição geral de um todo desmembrado, como uma esfera ‘quebrada’ e ‘unida’ por seus cacos quebradiços.

O mundo é uno e todos somos um, isso já foi dito. No entanto, a vida humana segue dividida: países, etnias, políticas... Tudo segregado. Às vezes parece que somos extraterrestres num planeta chamado Terra...

Antropófagos. Gente comedora de gente - que come no sexo, que come no dinheiro, que come pra se dar bem. Gente que se dana a comer a vida toda, até que vê a própria ânsia se esvair com a morte. O homem, então, sofre processo contrário, vê-se matéria comida pela terra, enquanto se liberta dos laços terrenos. Será a morte física a vingança antropofágica da vida? Ah! Se for... Quanta ironia...

quarta-feira, 12 de março de 2008

Meu Recife


471 anos. E eu aqui, todo orgulhoso. Tenho costume de dizer e reafirmo: sou mais recifense que pernambucano (só um pouquinho mais), mais pernambucano que nordestino (sim), mais nordestino que brasileiro (muito mais). Não se trata de bairrismo. É algo que não sei explicar. Um orgulho danado de ser parte de um povo guerreiro, que sempre lutou pelos seus próprios direitos, que fez da sua luta um impulso para o verdadeiro sentimento patriótico (eita palavrinha chata!), que sempre foi vanguarda na sua rica cultura, que vive os próprios sonhos - ainda que não detenha a mídia nacional, nem o poder econômico de outros centros.

O aniversário do Recife traz à tona a sua importância para o Brasil, esse país tão desigual e discriminador, essa nação ‘desmembrada’ em unidade e que tanto menospreza o que tem de melhor. Sem querer ser excludente, acho que o Recife não precisa do glamour que outras metrópoles nacionais têm – muitas vezes sem nada demais para oferecer. Que o digam seus artesãos, seus produtores culturais, seus poetas, atores, artistas em geral; gente que produz, mesmo que a sua obra não ganhe a merecida repercussão; gente que acredita que viver é materializar os próprios sonhos; gente que, ao invés de parecer ‘fashion’, prefere apenas ser gente.

Talvez minhas palavras já estejam descambando mesmo para um bairrismo pueril. Fato é que, vivendo numa nação dominada pela mídia e pela má política, prefiro mesmo estar aqui – ainda que no Recife, evidentemente, muitas mazelas morais e sociais persistam. Sou recifense, sim, com muito orgulho. E nesta data sinto-me, também, homenageado.

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E o que dizer de ti, Olinda! Castigada pelo desprezo de alguns, amada pelo que é pela maioria do seu povo. Olinda do Carnaval. Olinda prima do Recife. Olinda, sim, linda, minha prima também. A ti também deixo minha homenagem...

terça-feira, 11 de março de 2008

Tragicômico

Flagro-me em inquietantes divagações.
Penso, falo, ajo.
Enxergo-me muitas vezes infantil,
Por vezes tão maduro,
Vez em quando quase podre.

O que sou?

Palhaço infeliz!
Ser humano repleto!
Lindo, horrível, chato, engraçado...
Tragicômico...



88 anos. Senilidade aparente na face, no corpo, na mente. Viajar de avião, uma belezura! Na poltrona confortável da aeronave, um mirar em todos os rostos que a enfadada visão podia alcançar. As rugas aparentes na face murcha denotam um passado que nele deixara profundas marcas. A viagem é longa, mas não tanto quanto a própria jornada até ali vivenciada.

O tempo segue. Os pensamentos vagueiam. Eis que, num momento inesperado, o cansado olhar viu um semblante de pureza. Na poltrona ao lado viajava a garota de 11 anos, sozinha, alheia ao mundo. O leve sorriso nos lábios do velho foi apenas um sinal - contentamento pueril ou malícia indisfarçável? -, ali mesmo encenado. Em poucos segundos o quadro se consolida. A menina levanta-se abruptamente, lágrima nos olhos, nó na garganta. O tumulto estava consolidado.

O assédio sexual, assim, ganhou destaque na mídia. O que leva um idoso a se comportar de tal maneira? Vê-lo se defendendo na TV deixou uma sensação que aliava comicidade e tragédia, o vovô senil acusado de algo que, pelo que se vê, há muito se tornou coisa do passado. Eis mais um quadro tragicômico de um mundo movido a manchetes policiais.

88 anos. Senilidade aparente na face, no corpo, na mente...
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* O texto acima foi baseado em fato verídico, acontecido num vôo São Paulo-Petrolina, em 10 de março de 2008. Esse é o nosso mundo...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Interrogação

O presente
É o futuro do passado.
O futuro
É o hoje do amanhã.
O passado é pretérito,
Hoje do ontem,
Ontem do hoje e do amanhã.

O que tens feito
Com o teu tempo, então?

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Ontem passou e nada postei. Não foi questão de mera ociosidade, apenas um domingo regado a trabalho, utilizado para ‘cobrir’ pendências não concluídas durante a semana. Isso me trouxe a questão do viver, do viver bem e do viver melhor (o que fazer do próprio tempo). Não seria o primeiro dia da semana de total descanso? Teria eu infringido tal ‘lei’? O que é mais produtivo, então?

Eis o foco de hoje: o tempo, o ser e a produtividade.

Estamos ‘presos’ num ciclo temporal - passageiro, é verdade, mas não menos aprisionador. O que é mais ‘correto’, então? Ser rigidamente disciplinado ou buscar mais liberdade? Viver as regras do jogo ou infringi-las quando bem entender? Ser ou ter? Qual a melhor interrogação?



Para realçar os questionamentos acima e acirrar as opiniões, deixo a lembrança do genial Ray Charles: cego, independente, livre, original. Ainda que tenha ‘quebrado’ muitas regras, viveu aprisionado a um trauma de infância; ainda que negro, uniu um povo racista através da música; ainda que cego, marcou a história de um mundo que teima em não enxergar. Talvez seja essa a receita, unir os opostos e abrir a cabeça, fazer o que deseja e manter uma certa disciplina, ser antagônico quando todos são iguais. Somos regidos por inúmeras leis, mas podemos ser livres...

O que estamos fazendo com o nosso tempo, então?

sábado, 8 de março de 2008

Distorções de um Mundo Dividido

“E assim Deus criou a mulher”...
(ecos sobre a fantástica alegoria de Adão e Eva)

- Dizem que a expulsão do paraíso aconteceu após a primeira TPM de Eva - Adão que o diga!

- Dizem que o pecado original surgiu da zoofilia – Adão não agüentou o breve jejum sexual, quando Eva menstruou pela primeira vez, e créu (!) no pobre do burrinho...

- Dizem que Adão foi o primeiro ‘corno’ do mundo... (claro que foi o burrinho que ‘chifrou’ ele, né???)

- Agora, falando sério, dizem que Deus criou a mulher para ser tudo o que Ele É... (por isso elas são tão maravilhosas...)



08 de março, Dia Internacional da Mulher. Inevitável enaltecer a força do sexo feminino no mundo. A sensibilidade nata no foco preciso - maravilhosamente expressa no inquestionável sexto sentido -, o dom materno, a sensualidade, a delicadeza, a absoluta habilidade em se dividir sem perder a própria unidade; a capacidade de ser atraente e sexy sem ser vulgar - a não ser quando quer -, o tino administrativo aguçado, a beleza única em todo universo... Eis, aqui, o meu olhar sobre o fantástico e intrigante sexo feminino.

Olhando por esse prisma, evidente que a data se fundamenta - até porque ela se originou em homenagem a centenas de operárias americanas, massacradas em meados de 1800. Contudo, esse festejar internacional revela a ainda fragilidade nas relações sociais humanas. A sociedade engatinha na questão da justiça e da igualdade: patina na relação homem e mulher, escorrega feio na questão da homossexualidade e ainda se machuca pra valer nas relações inter-raciais.

Nesse contexto, desnecessário é dizer que o Dia Internacional da Mulher será, um dia, dispensável - assim como todas as outras datas surgidas em nome da igualdade e da justiça. Não tenho dúvidas que, no amanhã, quando entendermos enfim o que é viver em coletividade, esses festejos perderão vez. Aí não teremos mais esses dias comemorativos, recheados das distorções do nosso mundo dividido; seremos justos e iguais todos os dias com o nosso semelhante: homens, mulheres, homossexuais, negros, brancos, adultos, crianças, ricos, pobres...

Mas, enquanto essa época não chega, sigamos nos esforçando, hoje, para estender a idéia de cada comemoração em nosso dia-a-dia, tratando todo e qualquer ser humano com respeito, dignidade e igualdade. Por isso mesmo, façamos das mulheres companheiras de jornada, como na verdade são, indispensáveis para o mundo que queremos ter.

E obrigado, ‘deusas na carne’, por assim existir...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Desiguais

Somos diferentes
Mas com idêntica fonte,
Idêntico Pai,
Essências reais.

O que nos põe em confronto?
O que nos impele a atritar?
O que nos faz desiguais?



Brasil

A Super Interessante de março traz matéria de capa contundente: um olhar miúdo sobre as prisões brasileiras. Não bastassem tantas desigualdades numa sociedade hipócrita, o texto revela o submundo do crime no seio do sistema carcerário do país. Assusta ver o que acontece com quem entra em ‘cana’, especialmente os chamados ‘piolhos’ - gíria para os iniciantes nos delitos. Nas cadeias e prisões nacionais, questões como a homossexualidade, as visitas das parceiras, os preços pagos para comer e dormir, o comando do crime via celular, as extorsões... Tudo isso é revelado com olhar honesto.

Marcante também é a constatação da triste realidade nos presídios femininos, principalmente em relação à homossexualidade. Isso porque, quando a mulher é presa, normalmente é abandonada pelo parceiro e fica à mercê das lésbicas. Muitas transformam os próprios conceitos e preconceitos para não ficarem entregues à solidão.

Quanta desigualdade... Para quem ainda não consegue sequer se socializar, falar em re-socialização parece utopia. Quando aprenderemos o que é justiça e o que é humanidade?


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Mundo

Outra interessante matéria da revista traz ‘mudanças’ nos mapas do mundo, tendo como foco o comparativo econômico entre Estados, Países e Continentes. Através desse olhar, Pernambuco é tão rico quanto o Camboja; a Bahia é tão rica quanto o Kwait; São Paulo é tão rico quanto a Argentina. Sob outro prisma, as vendas da Nike são do tamanho do PIB da Níger; as da Nokia equivalem à riqueza de Camarões; as riquezas do Banco do Brasil superam as de Mali. Seguindo ainda com novo foco, o Estado da Califórnia tem o PIB do Brasil; o Texas, o da Coréia do Sul; Nova Iorque o de todo o México.

São exemplos curiosos que revelam o quanto nosso mundo é desigual - em renda, em ideais, em justiça.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Genialidade...

Até onde
O intelecto meu
Conduzir-me-á?

Crio-me e recrio-me;
Sou e faço ser;
Testo e atesto-me
Em todas as instâncias minhas.

Mas,
Até onde o intelecto meu
Realmente conduzir-me-á?

(Poesia "O Gênio", integrante do livro "O Rei, a Sombra e a Máscara - Parte III: A Moral da Moral", de Sidney Nicéas - ainda a ser lançado)

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Existem gênios? Quem pode ser considerado acima da média nesse quesito? O que faz de nós gênios? Em Goiânia, um garoto de 8 anos passou no vestibular para cursar Direito. João Victor (foto) quer ser Juiz Federal e é considerado um aluno exemplar – para sua mãe, ele é apenas “interessado e motivado”. João já se matriculou e quer fazer o curso em concomitância com a escola. Sorte? Genialidade?

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Na novela global das 18 horas, um ator vem ‘roubando’ a cena. Portador da Síndrome de Down, André Varella, além de ator, é poeta e toca alguns instrumentos musicais. Ainda que com uma certa limitação por conta da Síndrome, André tem desenvoltura e atua com naturalidade. Inclusive, será a estrela de um espetáculo produzido por Lima Duarte, ainda sem data de estréia. Genialidade?

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Exemplos na história do nosso planeta não faltam: Jesus, Aristóteles, Mozart, Disney, Pelé... Descartando as circunstâncias de época, o que foram eles? Homens com grande capacidade intelectual? Pessoas que nasceram com sorte? Figuras espertas que aproveitaram suas oportunidades? Estudiosos? Gênios?
E você, acha que poder ser mais???

quarta-feira, 5 de março de 2008

Limites

Tenho como divisa a virtual linha que define o meu e o seu direito. Somos todos um, é bem verdade, mas ainda dispostos numa condição social e humana que não nos permite ignorar isso...


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Porter é um garoto americano, uma das estrelas de um time de basquete de Utah. Ele também é titular de uma equipe de basebol e tornou-se uma das sensações da sua escola, considerado pela maioria como um exemplo a ser seguido. Tudo isso seria ‘comum’ se se referisse a uma estrela de Hollywood, ou até mesmo a alguém superdotado. Mas, não. Estamos falando de um jovem rapaz que perdeu o braço direito num acidente de carro, quando era criança. Isso mesmo. Ainda que com apenas o braço esquerdo, joga muito e mostra a todos o quanto é possível superar limites. “As dificuldades aparecem ao longo da vida e o segredo é enfrentá-las” – frase do vencedor...


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O exemplo do jovem americano é só mais um nesse vasto mundo. Contudo, ele deixa uma sensação paradoxal: por que, na maioria das vezes, precisamos ‘perder’ algo para nos superar? Nascemos numa sociedade limitadora, fundamentada no medo e na não-aceitação. Crescemos temendo um Deus que pune, sendo educados com um excesso de ‘não’s, acreditando que somos ‘pecadores’, pobres e fracos. A cada dia descubro que sou mais, que podemos ir muito além do que somos, que Deus faz parte de mim – e vice-versa – e que a vida é uma ilusão necessária, um tempo em que se deve explorar os limites de nós mesmos. Quando, enfim, libertaremos esse ser poderoso que em nosso âmago habita? Até quando permaneceremos amiudados?

terça-feira, 4 de março de 2008

Vogais em Nós...


O ‘a’ penado.
O ‘e’ brioso.
O ‘i’ limitado.
O ‘o’ culto.
O ‘u’ fanado.

Há paradoxos em ti.
Única sílaba em vós.
Há antagonismos em mim.
Muitas vogais em nós...


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Somos seres interessantes. Cultuamos o belo e adoramos o trágico. Enaltecemos o morto e desvalorizamos os que dividem a vida conosco. Amamos e odiamos. Levamos tempo para construir o ‘bom’ e em segundos jogamos tudo para o alto.

Nas manchetes dos jornais de hoje (e também de todos os dias), encontramos o curioso antagonismo que nos preenche: o taxista preso envolvido com o tráfico de drogas; o padre afastado por abuso sexual; as meninas anoréxicas em busca da beleza; mãe e filho envolvidos em assassinato; alunos em passeata pela paz. Aonde queremos chegar? Quando entenderemos o que realmente somos? Quando escolheremos ser mais?


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Você deve estar se perguntado do por que da imagem que ilustra esse post. Pois bem. Nada melhor do que esse forte retrato do nosso Brasil para realçar a noção de antagonismo aqui explorada: a gestante buscando no lixo o alimento (seu e do ainda feto); a degradação de uma grande e marginalizada parcela da população; a nossa ação ou inanição ante a vida coletiva. Sim, não tenho dúvidas: há muitas vogais em nós...